Os últimos parafusos foram apertados, a chaminé está no lugar, não há mais nada a ser feito, a não ser vê-la em funcionamento, sendo branca a mais esperada. Parece que, a exemplo externo da chaminé, os preparativos, digamos assim, espirituais, também foram acertados, os grupos se mostraram, mesmo que discretamente, afinal, como disse Dom Odilo Scherer, Cardeal brasileiro e um dos “favoritos” ao papado, não é uma “corrida política”. Nem ele deve ter acreditado na frase pronunciada, mas é de efeito e excelente num candidato.
A facilidade das comunicações, sem dúvida sabotam o antigo espírito do velhos conclaves, facilmente os cardeais de qualquer lugar do mundo se conhecem e se falam, naturalmente o velho latim, ainda ajuda. Esta “proximidade”, talvez evite um surgimento de um azarão à la Karol Wojtyla, que apareceu como nome, num momento em que as alas não se conheciam, ou nenhum lado conseguiria emplacar um seu. Agora a coisa é mais estruturada, todos sabem quem são, o pré-conclave, que antigamente era o momento de se apresentarem uns aos outros, hoje é usado para consolidar os nomes e as forças.
Amanhã, por esta hora, certamente o primeiro escrutínio já se deu, em geral o primeiro dia é um teste de teses, pelo menos era, agora é uma afirmação de forças. Dificilmente alguém arrebatará os 2/3 dos votos no primeiro dia. Por mais que a maioria dos cardeais sejam à imagem e semelhança do ultraconservador Papa emérito, Bento XVI, que os nomeou, em tempo recente, não signifique que eles se alinham imediatamente. O certo mesmo é que não pode se esperar um renovador, ou “traidor” como João XXIII, que se revelou um gigante, com suas famosas reformas, que tanto irritou seus pares conservadores. Aparentemente, os conservadores, não abriram mão de sua folgada maioria.
Um conclave dirigido por Sodano e Bertone, indica mais do mesmo, com uma imagem mais dura e sombria, nada garante uma verdadeira reflexão sobre os graves problemas da Cúria em tratar os escândalos sexuais e econômicos, pois, ambos trabalharam arduamente para colocar embaixo do tapete, conforme comentamos no último post, Vatileaks, A Ameaça ao Conclave. O domínio do encontro, a força de seus grupos conservadores, parecem dizer que não devemos esperar algo muito diferente do que já conhecemos, aqui, sendo bastante exato, o “espírito santo” não vai iluminar, pois preferem à sombra.
O site EuroNews que faz excelente cobertura do Conclave, desde a saída de cena de Bento XVI, traz uma boa obervação que diz que “Como sempre nesta circunstância há nomes que se destacam. O arcebispo de Milão, Angelo Scola e o arcebispo de São Paulo, Odilo Scherer, lideram a lista dos potenciais futuros papas”. Porém, eles concluem que “A experiência tem mostrado que os nomes mais falados nem sempre são os escolhidos, mas as apostas não faltam. Os dois homens representam as duas principais correntes: uma que defende a refundação do governo da Igreja, e que aposta num papa italiano, e a velha guarda da Cúria, que prefere um papa estrangeiro, deixando a secretaria de Estado, o centro do poder do Vaticano, nas mãos de um italiano”.
O arranjo tentado pelos conservadores, apontam para um papa estrangeiro com o poder efetivo, exercido por um “estrangeiro”, ou o contrário. O primeiro dia dará uma noção em qual situação se enquadrará o destino da Igreja. As reuniões prévias, não garantiram um acordo, as primeiras votações definirão o caminho. Aqui, deste lado, não acreditaria numa terceira via, mesmo pensando como seria importante um outro caminho, mas nada que tenho lido me faz ter qualquer dúvida de que o acerto será apenas uma questão de força. O projeto estar já encaminhado, o modelo é o velho, mesmo que seja um Papa mais jovem.
Amanhã, iremos ver os primeiros lances desta eleição tão importante.
O que me deixa triste é saber a importância da Igreja de Roma e no que ela tornou quando decidiu fechar dentro de si mesma e abandonar sua face humana e progressista, preferindo negar os avanços pelos quais hoje passa a humanidade.