Arnobio Rocha Reflexões Retrato em Branco e Preto

762: Retrato em Branco e Preto

 

Bem, pode ser apenas um tolo orgulho, o fato de que nunca peguei atalho. O caminho certo ou mais longo, te leva a mais longe ou a lugar algum, ainda não tenho uma conclusão clara. Sei apenas quais são as minhas pegadas, em cada terreno que pisei, raramente me envergonharei de tais caminhos, mesmo quando escolhidos ao acaso, o propósito foi, na maioria das vezes, buscando o melhor. A precipitação e ansiedade de algumas determinadas decisões, foi fruto da imaturidade ou inexperiência, ou ambas.

Olhando no retrovisor, vejo uma estrada trilhada, por alguém que passou do ponto, cujo tempo foi vencido, em cada etapa, momento, ele veio e passou. Tudo aconteceu, mas a promessa que seria ou poderia ser mais, não se cumpriu, apenas não chegou, foi, o que foi. A sensação é de que o tempo, meu tempo se foi, não voltará, aproveitei ou vive de acordo com ele, com  as características que fui adquirindo na vida, a personalidade e valores, orgulho, vaidades, correndo no limite, sem ceder no essencial. Mais e daí, valeu?

Até uns 14 anos, as escolhas não dependiam de mim, depois disto, tudo passou a ser decidido e guiado pela minha vontade. O tempo de Escola Técnica Federal, como segui, o movimento estudantil, a opção política, os enfrentamentos e as conquistas, tudo conspirava por mais. A Umes, a importância e localização na luta, a maior visibilidade, o caminho que se abria, foi, acertadamente, abreviado, com a mudança para São Paulo, outro ambiente, outros horizontes, mesmo com a hecatombe ideológica, outras coisas serviram de suporte para seguir, como emprego, constituir família, dedicação aos novos estudos.

Trilhados novos rumos, sem esquecer os antigos, rapidamente se chega aos impasses de trabalho, o que seguir, as mudanças de empregos, de cidades, de país, as idas e vindas, uma experiência que se consolida, uma certeza profissional, porém sempre retida, impedida de ir além. O tempo também passou aqui, não o que reclamar, apenas constar os limites que se tem, somados as nossas escolhas, a tal carreira profissional, os filtros próprios que se impõem que pouco ou nada se pode fazer, não dominamos os fatos, muito menos os fardos que iremos carregar em cada empresa, ou trabalho.

O tom parece melancólico, para baixo, mas não é. As reflexões que muitas vezes faço, mesmo as mais duras, são o recomeço ou uma aceitação ao que consegui, meus limites. A vida, olhando desta perspectiva, parece bem mais simples do que buscar algo que não tem, ou que não se é. Mais ainda, ninguém é culpado ou responsável pelo que não fomos ou não somos, apenas nós mesmos, perdemos ou ganhamos. Todas as circunstâncias podem ser favoráveis, mas você pode se sabotar e desperdiçá-las. Algumas vezes o imponderável acontece, mas nem sempre estamos atentos ou preparados para aproveitar, talvez não tenhamos o talento necessário.

Que o próximo tempo seja melhor, e que eu seja mais prudente.

Retrato em Branco e Preto – Ney Matogrosso

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