“Ah, meu coração que não entende
O compasso do meu pensamento
E o pensamento se protege
E o coração se entrega inteiro e sem razão
Se o pensamento foge dela o coração a busca aflito
E o corpo todo sai tremendo,
massacrado e ferido no conflito”
(Conflito – Petrúcio Maia/ Clodo)
A doce alienação, de que falei a pouco no post Esqueçam Gerações, Vivam Love Generation, só é completa quando lembro a vinda para o trabalho. O carro avançando rapidamente, pois era mais cedo do que normal, fugindo do rodízio de carros, o sol bate forte quase a cegar, mudando de estações, ou música ruim ou os reaças falando da tal “visitante ilustre” de Cuba, não tenho paciência para o roteiro, busco o CD, por coincidência estava lá um de Raimundo Fagner, meu conterrâneo, show ao vivo, algo assim.
A voz de Fagner jamais foi um primor, mas sua originalidade e o nosso orgulho de ser um de “casa”, rapidamente nos tornou admirador e fã. O CD rolava “Revelação”, de 1979, ainda lembro aos 10 anos quando ouvi, não entendia aqueles versos:
“Um dia vestido
De saudade viva
Faz ressuscitar
Casas mal vividas
Camas repartidas
Faz se revelar
Quando a gente tenta
De toda maneira
Dele se guardar
Sentimento ilhado
Morto, amordaçado
Volta a incomodar”
Hoje fez todo o sentido, a melancolia e as paisagens da minha terra, ou de como a concebo, invadiram meus pensamentos, coisas feitas e desfeitas, o velho aedo a cantar, com sua voz cada vez menor, dava uma sensação de nostalgia desta manhã quente, como é por lá, todos os dias.
Mas aí veio Conflito, uma letra de um grande poeta da terra, Petrucio Maia em parceria com Clodo, o estranhamento do curto poema, fez com ouvisse em looping, a gravação original, de 1976. Incrível como os versos são eternos e cheiram ao novo. Tomou meu dia, espero que invada o seu também, que me lê. A saudade de um tempo, de um lugar, quase um ex-patriado.
Conflito – Fagner
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=fmKsWiVFpsk[/youtube]
Estas músicas antigas de Fagner (que eu tive em vinil) fiquei anos sem ouvir. Com o advento da internet consegui resgatar memórias como esta. Nostalgia pouca é bobagem.
Sou suspeita. Amo (quase) tudo que o Fagner canta. As músicas batem fundo e, às vezes, doem. Mas é uma dor boa de sentir. Faz lembrar o que já passamos.