“E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado”
(Chico Buarque – Construção)
Quase dois meses sem chuva em São Paulo, parece pouco para uma cidade que estar a quase 8 anos sem prefeito, mas isto é outra conversa. A preciosa água da chuva, que tantas vezes irrita o paulistano, por conta dos estragos que causa, agora é lamentada pela sua ausência. A última vez que choveu foi em 17 de julho, depois disto o inverno sumiu completamente, a seca e o calor predominou, hoje ameaçou cair umas gotinhas, um sereno, nada muito forte, fiquei empolgado no carro certo que viria/virá mais água.
A chuva redentora, que limpará a cidade, ainda não veio, a sujeira continuará, não apenas no sentido literal. Os olhos ardendo em pleno inverno, período do ano, com pouca chuvade fato, mas com umidade alta, porém, agora o contraste é o tempo seco, sol forte, não parece que estamos na época em que São Paulo é mais São Paulo. Muitos reclamam que é o pior inverno em décadas, nos meus 23 anos que moro aqui, exceto 1996 que estava no Japão, foi o mais horrível inverno. Só, assim, percebemos como nos faz falta a chuva, vamos nos prometer a não reclamar do congestionamento que ela causa.
O sereno de hoje cedo já complicou o trânsito, pensei quando vi aquela fila de carros na Av 23 de maio, parecia exagerado, na aquele horário. Lentamente ia fluindo o trânsito, achei que era culpa do sereno, mas logo depois, vi o real motivo, um acidente com um motoboy. A curiosidade mórbida faz com que se pare e fique a olhar a cena triste. Esta era a causa daquele congestionamento, que se diga, o acidente, era do lado ao que eu seguia. Já do lado da pista, em que ocorrera o acidente, os carros se avolumavam, próximo do “cerco” de carros de resgate e controle de tráfego. Vem na cabeça, os versos do Chico “morreu na contramão atrapalhando o tráfego”. Aquele cara da Construção (civil), hoje, é o motoboy.
A crueldade que é conviver com os milhares de acidentes de trânsito, nas grandes cidades, aqui não cabe discutir se foi culpa do motoboy , o vilão por excelência ( o ciclista também ), na visão dos que andam de carro. A reflexão é maior, é sobre violência que mata, machuca, causa paralisia ou lesões (leves ou graves), as soluções “fáceis” e óbvias são gritadas a todo instante, mas não garantirá que em mais alguns minutos a cena não se repita em outro ponto qualquer da cidade. A desculpa do sereno, chuva também é lembrada, mas nem assim me conformo. Redobro todos os dias os cuidados com o dirigir, mudo de atitude, muitas vezes penso que não deveria guiar em São Paulo.
São apenas histórias de um dia que a chuva não veio, ainda, o sereno já provocou mais uma vítima, o coração se fez mais triste, a redenção não veio, o ar irrespirável continua, nem lágrimas vamos verter, hoje.
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Amigo não é o transito o problema, não é a figura do motorista, do motoboy, ou do ciclista e sim do ser humano no geral.
Abraços!