[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=pRUiLQ0Bs_g[/youtube]
Sexta-feira escrevi sobre Messi x Neymar – Os gênios da bola , em que falo sobre o prazer de ver os dois jogando bola, as suas sutis diferenças, inclusive na idade/maturidade, que faz com que, hoje, Messi seja melhor. Disse ainda que o jogo “Neste domingo, dia 18 de dezembro estarão frente a frente, mas, para mim, o duelo deles se dará em 2014, na copa do mundo. Agora é uma preparação do que virá”. Mantenho o que escrevi, do meu ponto de vista, em 2014 com Neymar mais tarimbado fará frente ao genial Messi.
Acordei cedo no domingo para ver o duelo que não houve, simplesmente o Santos apenas assistiu assustado o Barcelona jogar, um massacre, um espanto. Durante todo o jogo o Barcelona parecia enfrentar um time amador, de tanta facilidade que teve de trocar passes, irritantemente virava a bola de um lado ao outro, quando acelerava ou fazia gol ou criava uma situação de perigo, uma aula de futebol: precisão nos passes, deslocamentos, consciência tática e longa preparação.
O pré-jogo já foi complicado a declaração do Presidente do Santos mostra bem a nossa arrogância: “Contra o Barcelona, serão duas escolas: uma europeia, com floresta artificial e que produz muito dinheiro, racional, arrumada, mas previsível. O Santos é a Mata Atlântica, com sua diversificação”. Lembrou Zagalo que em 1974 antes de enfrentar o “carrossel holandês” dizia que aqueles cara andavam de tamanco, mal sabia ele o que estupendo Ajax tinha feito entre 1972 e 1974 na Europa e era a base daquela seleção.
Enquanto ficamos achando que somos os donos da bola, pouco faremos frente a um novo desenho no futebol mundial, é preciso reconhecer que a Espanha não foi campeã do mundo por acaso, que desde 2002 não formamo nenhuma grande seleção.
O que o Barcelona fez ontem é uma coisa que devemos pelo menos pensar. O senhor Muricy Ramalho chegou a dizer depois do jogo que para o “Santos não tem impacto algum”(como assim?). Devemos aprender sempre com a derrota, principalmente com as mais acachapantes. Depois mais ponderado reconheceu que tomou um baile de bola. Neymar mesmo com seus 19 anos deu a melhor declaração “aqui aprendemos a jogar futebol”.
Este Barcelona me lembra a espetacular seleção de 1982, infelizmente não tive o privilégio de ver a de 1970, só por vídeo, mas a seleção de Telê, acompanhei toda sua formação, de 1979 até o estádio do Sarriá( A Tragédia do Sarriá: Brasil Arte 2 X 3 Itália Pragmática ), para mim, a maior tragédia do futebol mundial, não que a Itália fosse feita de cabeçudos, mas porque ali representou um retrocesso de 20 anos no futebol brasileiro. As seleções brasileiras e os times passaram a valorizar apenas a força e a vencer sem espetáculo, se curvou a objetividade vencedora da Itália.
O time de Telê era tão especial que não tinha nenhum jogador que não tivesse classe ao tocar na bola, da linha de zagueiro ao ataque, era futebol por música, encantamento, fantasia. Um meio de campo de gênios : Zico, Sócrates, Falcão e Cerezo. Ainda tinha Júnior e Leandro nas laterais, era um time sensacional. O Barcelona transforma até jogadores medianos, como Puyol, Mascherano, Piqué, em bons jogadores. Mas tem uma linha mestra sensacional, de classe: Xavi, Iniesta, Messi e Daniel Alves. Agora incorporou Fàbregas, que já brilhara no Arsenal. Virou uma grife, um modelo.
Messi ontem brilhou intensamente, pois tem uma retaguarda melhor que Neymar tem. O Santos tremeu diante do Barcelona isto facilitou muito o jogo de Messi, jamais foi importunado por Arouca ou Henrique, menos ainda pela horrorosa zaga do Santos. O placar foi até pequeno diante de tão grande diferença. Mas não nos enganemos, Neymar não deixou de ser Neymar pelo jogo de ontem, não joguemos nas costas dele a ruindade de Léo, Edu Dracena, Rodrigo e Danilo, pois muita vezes ele carregou nas costas estes mesmo, ontem pouco pôde fazer frente a um time extremamente organizado.
Arnóbio
O que falta ao futebol brasileiro é profissionalismo. Aqui, pela própria legislação, clube, em especial os de futebol, funcionam de forma anárquica, o que ocorre propositalmente, para melhor servir aos interesses de quem os dirige. Não pagam impostos, compram e vendem jogadores por preços nunca revelados sequer a seus associados, servindo aos interesses únicos dos tais “empresários de jogadores”, que acumulam fortunas sem pagar impostos. Este caldo faz com que as multinacionais, que em outros países fazem publicidade, aqui mandem no futebol, escalando inclusive a seleção brasileira.Não se valoriza mais o que já foi comum por aqui, as categorias de base.Times como o internacional, que tem feito isto, tem tido também mais regularidade nos campeonatos. mesmo assim, isto ocorre num espaço desregulado e a mercê do mercado. A seleção, por este formato, tem privilegiado jogadores que jogam fora do país, o que também serve como inibição a quem atua aqui. Houve época em que era limitado o número de jogadores que atuavam em outros países e que eram convocados a atuar pela seleção. Hoje isto é regra. Então, a regra é esta: só é bom quem vai jogar fora do país.Já este time do Barcelona é o contrário. Nove dos onze jogadores em campo são oriundos das categorias de base, inclusive Messi, que foi pra lá com 14 anos. Na seleção espanhola, quando convocada, poucos são os jogadores que atuam fora do país e são convocados para os jogos e as copas.É engraçado. Mas o futebol já foi o “ópio do povo” no negro período da ditadura e era válvula de escape das massas desempregada no período do neo liberalismo. Agora, que já somos a 6ª economia do mundo, é a europa que parece transformar o futebol em ópio, pelo menos a mídia de lá tentou fazer isto.
Arnóbio;
A vitória do Barcelona já era esperada. Surpreendente foi a limitada capacidade de jogar do Santos. todavia, para quem acompnha os jogos do Barcelona, a maioria do adversários sofre da mesma forma que os santistas sofreram ontem.
Nas palavras do treinador do Barça compreendemos o segredo dos caras:
. Joga um futebol inspirado no Brasil de 1970;
. Obrigatoriamente tem que ter qualidade dos jogadores;
. Bom condicionamento físico, movimentação e algo que aprendi faz tempo: o jogador não precisa correr, mas sim a bola.
Você disse tudo em seu artigo. Esse time do Barcelona, excentuando-se a zaga, que pode ser considerada normal, possui um conjunto de jogadores especiais. Você os comparou com a seleção de 1982, mas o time do Flamengo de 1981 tinha qualidade semelhante, porém foi campeão.
Neymar está ainda distante de Messi, e não há nada que garanta que um dia se equipare ao craque que, para sorte dos adversários, não se naturalizou espanhol. Os que o ainda criticam pelo fato de não ter rendido o mesmo na seleção argentina, pouco entendem de futebol. Por isso ainda não perceberam que o time do Barcelona é muito melhor que a seleção argentina, que carece de gente inteligente para dialogar com o fantástico Messi.
Grande abraço!
Irretocável o seu texto, Arnóbio.
Sugiro-lhe também a leitura de um texto do Lúcio de castro, da ESPN: http://espn.estadao.com.br/luciodecastro/post/232137_O+DIA+EM+QUE+GUARDIOLA+APONTOU+PARA+O+NOSSO+ELO+PERDIDO#comentarioAba
Realmente, o Barcelona está em um nível bastante superior aos demais times do planeta. Não que seja imbatível – e o modesto Getafe está aí pra provar – mas quando os caras aceleram o jogo, é virtualmente impossível marcá-los!
A comparação com a seleção mágica de 82 procede, mas a nossa equipe tinha os jogadores bem mais fixos nas respectivas posições e o poder de marcação (entendida esta como a possibilidade de tomar a bola do adversário e construir as jogadas, não os chutões e carrinhos que hoje em dia muita gente chama de “marcação”) era bem menor (claro que aí entra também o condicionamento físico, que nesses 30 anos evoluiu muito).
Além disso, contam com três craques absolutos – Xavi, Iniesta e Fábregas – e um genio. Tirando o goleiro, todos os demais jogadores estão entre os melhores do mundo nas respectivas posições (posições, que posições, cara-pálida? O Daniel Alves é lateral direito, volante ou ponta direita? E o Abidal? É zagueiro ou volante?).
Impressionante a capacidade de deslocamento e de infiltração dos caras, a precisão dos passes, a rapidez na recomposição quando estão sem a bola e a objetividade quando partem pra cima.
Realmente o Neymar disse tudo: foi uma aula de futebol – e o que é melhor, de futebol bonito, alegre, irreverente (sem ser irresponsável), capaz de surpreender e encantar.
Viva o Barça – e que um dia o meu querido Vasco da Gama possa chegar perto desse nível!
Abraços.