Marx Vive
“Os grandes revolucionários foram sempre perseguidos durante a vida; … Mas, depois da sua morte, tenta-se convertê-los em ídolos inofensivos, canonizá-los por assim dizer.” (Lenin – O Estado e a Revolução” )
Muita coisa interessante estar sendo publicada sobre a Crise 2.0, boa parte no Estadão, o que tem me ajudado bastante na hora de produzir meus artigos. Mas é interessante, ao mesmo tempo embaraçoso, perceber que velhos economistas liberais entendem e usam Marx, suas lições, quando lhes convém, com muita propriedade.
Recentemente escrevi sobre a impossibilidade de países com desenvolvimento tão distintos partilharem a mesma moeda: “A Zona do Euro como concebida é uma fantasia irreal, o padrão tecnológico, o acumulo científico e a sofisticação das empresas da Alemanha e França, junto com o padrão salarial delas, não se pode igualar a uma de Portugal ou Espanha. Mas no mundo ideal foi decidido que ambos os lados teriam moeda comum, salários e serviços com mesmo padrão.” ( Crise 2.0: Cronologia do Crime )
Assimetrias do Euro
Ontem, Celso Ming, no Estadão, escreveu sobre a assimetria na Zona do Euro:
Na prática, o valor do euro em outra moeda (em dólar, em libra esterlina, em iene, em franco suíço ou em real) ficou diferente para o alemão, para o italiano, para o grego ou para o francês – embora partilhem da mesma moeda. A unidade de produto (uma garrafa de vinho, uma máquina ou um carrinho de bebê) produzida na Alemanha tem custo mais baixo por unidade de trabalho quando comparada à fabricada na Grécia ou na Itália e pode ser vendida mais barata. Como os mercados estão integrados, o alemão consegue exportar mais para os outros sócios do bloco do que esses para o alemão.
(…)
“A novidade é que a moeda comum não permite a desvalorização do câmbio real, que é diferente entre os países do bloco. Assim, sem poder impulsionar a produtividade, o único mecanismo de ajuste passou a ser reduzir salários, aposentadorias e rendas. Além de doer, isso passou a ser fonte de enormes tensões políticas.”
A coluna traz uma importante tabela de comparação da relação entre saldo comercial e os países em crise, evidenciando quem mais é punido na zona do Euro e quem mais ganha:
Paul Krugman , cita Gavyn Davies sobre a comparação dos déficits públicos dos PIGS versus superávit alemão:
“É normal debater o problema do endividamento soberano concentrando-se na sustentabilidade da dívida pública nas economias periféricas. Mas pode ser mais informativo enxergá-lo como um problema no balanço de pagamentos. Tomados em conjunto, os quatro países mais problemáticos (Itália, Espanha, Portugal e Grécia) têm um déficit conjunto de US$ 183 bilhões na conta corrente. A maior parte deste déficit corresponde ao déficit no setor público destes países, já que o seu setor privado se encontra atualmente num estado aproximado de equilíbrio financeiro. Compensando estes déficits, a Alemanha tem um superávit de US$ 182 bilhões em conta corrente, o equivalente a cerca de 5% do seu PIB.”
O que parece bem claro há uma continua transferência de riqueza dos mais países com menor capacidade produtiva, para a rica Alemanha, este desequilíbrio se acentuo, principalmente no momento de crise, e é evidenciado, também, na emissão de títulos. Enquanto os títulos alemães são emitidos com juros de 2 % os da Itália, Espanha já passam de 7%.
A questão dos Bancos e os títulos públicos
De outra matiz, mas com olhar bastante preocupado com o que acontece na Zona do Euro, Amir Khair, escreveu o artigo Crise na zona do euro se espalha, para Carta Maior e traz algumas relevantes informações, selecionei alguns trechos:
Bancos Franceses na linha de tiro
“Caso não surja rapidamente uma solução para a dívida italiana pode-se prever o esfacelamento da zona do euro e uma crise bancária global. Os bancos franceses, bastante expostos à Grécia, têm US$ 366 bilhões em títulos da dívida italiana. A Espanha, cujos papéis também estão sob pressão, provavelmente seria arrastada e com ela, mais créditos de bancos franceses (US$ 118 bilhões).
Crise bancária
“Segundo o Financial Times de 4 de agosto, os 90 bancos que fizeram parte do teste de estresse realizado neste ano pela Autoridade Bancária Europeia – considerado brando demais – terão de refinanciar US$ 5,4 trilhões em dívida nos próximos dois anos, ou o equivalente a 45% do Produto Interno Bruto da União Europeia.”
Os emergentes
Para os países emergentes, a ameaça é que o financiamento europeu sofra interrupção, o que ainda não ocorreu. Na Ásia, os empréstimos dos bancos da zona do euro suprem 21% do financiamento externo total de US$ 2,5 trilhões. Segundo o Financial Times do dia 8, alguns países são muito dependentes desses recursos, que compõem 52% do funding da Coreia do Sul e 75% do da Indonésia. No Brasil, os ativos das instituições da união monetária correspondem a 73% do total de ativos de instituições estrangeiras, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements) BIS para o segundo trimestre deste ano.
“Derretendo”
Para piorar o quadro, hoje Celso Ming publica na sua coluna, com um título apropriado – Derretendo. Cujo centro é o problema da rolagem da dívida dos títulos públicos dos vários países europeu.
“A deterioração do mercado europeu de títulos de dívida aumenta todos os dias. Tende a transformar em lixo tóxico não só os papéis de dívida soberana da Grécia, de Portugal e da Irlanda, mas também os da Itália, da Espanha e, possivelmente, da França (veja o gráfico).”
Ele alerta ainda: “Itália, Espanha e, ao que tudo indica, também a França precisarão de enormes transfusões de sangue novo, no entanto, já não se sabe como isso poderá ser feito.”
Esperemos a próxima cena…
Rapaz… que grave! Mas vem cá, se eles param de investir por aqui aí é que não lucram nadica de nada, né? Que dilema, que beco sem saída…
E que horror essa situação de nada poder fazer, só seguir o regulamento… é como seguir o boi-líder pro matadouro, sendo que o boi-líder, por ser om mais esperto, é retirado da degola no último instante…