17 de dezembro de 2025

0 thoughts on “Elomar – A poesia do sertão (43 – 33/2010)

  1. Elomar foi o primeiro nordestino cantante que curti muito!!! Minha primeira paixonite de menina me apresentou. Aí troquei o Elomar pela paixonite! demais, adoro muito! obrigada por trazer ele de volta até mim.

  2. Cresci ouvindo essa turma de geniais, extendendo com Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho, Alceu Valença, Elba Ramalho, Amelinha, Diana Pequeno, Zé Ramalho e outros da vizinhança, cujos nomes não ganharam projeção, mas não menos talentosos.

  3. Caro,

    “…Das Barrancas do Rio Gavião é um disco que há vinte e oito anos(*) é propriedade eterna da Rainha da Holanda, a qual _ graças às benevolências das leis brasileiras sobre direitos autorais _ nunca pagou um real se quer de direitos do autor.”

    (*) Esta informação está no site do Elomar. Sem data, hoje, já deve ser mais de 28 naos, acredito.

    As nossas “propriedades intelectuais” são, neste caso em específico, Elomar e Vinícius de Moraes, que Apresentou o disco, com um texto digno de Vinícius de Moraes.

    Segue o texto do poeta….

    A mim me parece um disparate que exista mar em seu nome, porque um nada tem a ver com o outro. No dia em que “o sertão virar mar”, como na cantiga, minha impressão é que Elomar vai juntar seus bodes, de que tem uma grande criação em sua fazenda “Duas Passagens”, entre as serras da Sussuarana e da Prata, em plena caatinga baiana, e os irá tangendo até encontrar novas terras áridas, onde sobrevivam apenas os bichos e as plantas que, como ele, não precisam de umidade para viver; e ali fincar novos marcos e ficar em paz entre suas amigas as cascavéis e as tarântulas, compondo ao violão suas lindas baladas e mirando sua plantação particular de estrelas que, no ar enxuto e rigoroso, vão se desdobrando à medida que o olhar se acomoda ao céu, até penetrar novas fazendas celestes além, sempre além, no infinito latifúndio.

    Pois assim é Elomar Figueira de Melo: um príncipe da caatinga, que o mantém desidratado como um couro bem curtido, em seus 34 anos de vida e muitos séculos de cultura musical, nisso que suas composições são uma sábia mistura do romanceiro medieval, tal como era praticado pelos reis-cavalheiros e menestréis errantes e que culminou na época de Elizabeth, da Inglaterra; e do cancioneiro do Nordeste, com suas toadas em terças plangentes e suas canções de cordel, que trazem logo à mente os brancos e planos caminhos desolados do sertão, no fim extremo dos quais reponta de repente um cego cantador com os olhos comidos de glaucoma e guiado por um menino – anjo a cantar façanhas de antigos cangaceiros ou “causos” escabrosos de paixões espúrias sob o sol assassino do agreste.

    Elomar nasceu em Vitória da Conquista, cidade que também deu vez a Glauber Rocha e Zu Campos, e depois de formar-se em arquitetura pela Universidade Federal da Bahia, ocupa atualmente o cargo de Diretor de Urbanismo em sua cidade. Mas do que gosta realmente é de sua caatingueira, uma das mais ásperas do sertão brasileiro, onde cria bodes e carneiros. Já me foi contado que um de seus reprodutores, o famoso bode “Francisco Orellana”, quando a umidade do ar apresenta seus índices mais baixos – que usualmente é 10 graus – senta-se em posição estratégica sobre as patas traseiras e não se peja de urinar na própria boca, de modo a aproveitar, num instintivo e engenhoso recurso ecológico, a própria água do corpo para dessedentar-se.

    E tem a onça. Vez por outra, a madrugada restitui a carcaça sangrenta de um bode ou um carneiro, e todas as preocupações cessam, a não ser chumbar a bicha. E a conversa entre os fazendeiros fica sendo apenas essa: onça, suas manias, suas manhas, seus pontos fracos.

    A onça é um dos símbolos sertanezos

    Todo mundo se oncifica. Elomar sai à noite para tocaiá-la, e quando a avista só atira nela de frente.

    – Um bicho que vem de tão longe para matar meus bodes, esse eu respeito! – diz ele em seu sotaque matuto (apesar da boa cultura geral que tem) e que faz questão de não perder por nada, enojado que está da nossa suposta civilização.

    Quando lhe manifestei desejo de passar uns dias em sua companhia e de sua família (Elomar é casado e tem um par de filhos, sendo que a menina tem o lindo nome de Rosa Duprado) para descobrir, em sua companhia e ao som do excelente violão que toca, essas estrelas recônditas que já não se consegue mais ver nos nossos céus poluídos, Elomar me disse:

    – Pode vir quando quiser. Deixe só eu ajeitar a casa, que não está boa, e afastar um pouco dali minhas cascavéis e minhas tarântulas…

    É… Quem sabe não vai ser lá, no barato das galáxias e da música de Elomar, que eu vou acabar amarrando um bode definitivo e ficar curtindo uma de pastor de estrelas…

    Vinícius de Moraes
    Abril de 1973

  4. Elomar é gênio escondido que só será apresentado à “intelectualidade” daqui a uns dois séculos.

    Isto se faz suficiente para dizer que Elomar não é reconhecido pela contemporaneidade nem será.

    Os críticos que aí estáo não têm cohecimento suficiente para recepcionar e resenhar com honestidade a obra deste genial baiano que está peidando pra todos eles … e elas.

    Geraldo Sales|Juazeiro do Norte|Ce.

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