38: Debate pós-eleitoral: não a agenda Mico (37 – 27/2010)

 

 

Eleição e Projeto políticos

 

 

O que estava em jogo nesta eleição era a possibilidade de avançarmos o debate político-ideológico com as manifestações Neoliberais decadentes no mundo, mas que ainda resiste no Brasil num setor do centro-direita e com ampla campanha da imprensa local. Enquanto o mundo se desloca das alternativas de estado mínimo, a agenda da direita apoiada na imprensa é a mesma pré-setembro de 2008.

Pela primeira vez os projetos alternativos voltam ao palco no Brasil e no mundo depois de 19 anos de massacre e pensamento único, a Direita tinha seu projeto e era incontestável, hoje ela não tem projeto, apenas administra (mal e porcamente) a crise gigantesca, mas ainda não achou um novo cabedal político e ideológico para ancorar.

À esquerda na sua longa crise letargia ainda não forjou um novo paradigma na luta contra o capital, aqueles (trotskistas) que achavam que a revolução se abria não conseguiu encontrar seus “novos/velhos Soviets” nem a Direita achará seu “Estado de Bem estar Social”.

A questão é complexa para os dois lados, buscar teoria já testada é necessário, porém mundo não é o mesmo de 1917 e nem anos pós-guerra. Este é desafio da Direita e o nosso da Esquerda: entender o mundo parece secundário, mas ambos (direita e esquerda) dão respostas com receituário velho para novas doenças. Agora empatamos o jogo, estamos sem armas e certezas absolutas.

Claro que a situação é melhor já não sofremos o massacre político-ideológico destes últimos 20 anos, mas também não nos conforta saber que fomos incapazes de repensar nossos conceitos, nem o velho Marx conseguimos entender. Neste tempo todo não termos feito nada de concreto, alternativo, apenas resistir é muito pouco.

Inflexão à Direita

Foi trazida de contrabando ao palco eleitoral deste ano uma inflexão da candidatura de centro-direita, representada por Serra, à Direita mais raivosa com algumas nuances Neofascistas, o debate foi empobrecido por temas de costumes (aborto, religião) e não políticos totalizantes como a questão do estado, da economia, perspectiva da relação do Brasil com o G20 e qual agenda para entrarmos noutro patamar de país que emerge do ambiente pós-crise de Setembro de 2008.

Rebaixado o debate político, talvez pela leitura de que seria impossível derrotar a candidatura do governista nos marcos de um debate programático mais elevado, mais ainda pela total falta de projeto alternativo ou que pudesse efetivamente se diferenciar, a opção foi reduzir e insuflar uma campanha que beirou ao ódio aos temas relacionados aos costumes.

Esta campanha muito lembrou a sucessão Clinton nos EUA em 2000, em que Al Gore, representante do governista, enfrentou um dura campanha difamatória, com estes temas moralistas, em particular o comportamento sexual de Clinton. A agenda política foi esquecida e num movimento esquizofrênico patrocinada pela Direita “pentecostal” levou Bush Jr a “ganhar” a eleição no Supremo.

Aqui a tentativa de tornar público o passado de Dilma para demonstrar que ela fez a luta armada, que era terrorista, combinada com a necessidade de dizer que ela era um “poste”, que seria manipulada por José Dirceu, por Lula, como se uma Mulher não fosse capaz de assumir o poder e dirigir o destino do país. Criou-se um caldo de cultura reacionário, apelativo, que muitas vezes fez submergir velhas forças de extrema-direita que sempre existiram em SP, mas que estava condenada ao gueto. A velha TFP, que auxiliou o Bispo de Guarulhos, com seus panfletos absolutamente vis, não por acaso impressos numa gráfica de membros do alto comando do PSDB, não deixam dúvida de onde partiu e se incentivou este caminho. É o que chamo de abrir a “Caixa de Pandora” do ódio, preconceitos regionais e de posições sobre sexo, aborto e vida.

Efetivamente estes temas que não deveriam ser o centro do debate político tomou proporções inesperadas e foi usado como arma constante pela candidatura Serra.  A tática do medo, do desprezo, desrespeito por Dilma foi um dos aspectos mais odioso desta campanha.

Quem quer 3º turno?

 

 

Passada a campanha, na minha visão, por volta de 90% das pessoas aceitam seus resultado e passam a alimentar a expectativa de como será o próximo governo, aqueles que não votaram em Dilma passar a ouvir não mais a candidata, mas a agora a Presidente eleita a encontrar pontos de contatos no que pensam e no que ela diz, há uma necessidade de se acomodar a nova situação, o que me parece bastante natural e maduro.

Dilma fez excelentes debates nos diversos jornais e TV pós-eleição que em grande parte chama a população para se reconciliar e olhar para o futuro. Ela dialogou com mais calma, mais propriedade e, claro, as pessoas estão mais desarmadas para ouvi-la. Tudo foi bem conduzido e nos dar uma esperança de que teremos um excelente governo.

Porém ficamos com 10% que em absoluto não aceita o resultado, parte e de apoiadores do Serra e parte são de apoiadores da própria Dilma.  Claro, que os do Serra, são plenamente justificados, perderam a chance de voltar ao poder, reclamam de Lula, não aceitam a derrota e, comandados pelas palavras do Serra, de que a “guerra” continua arrumam qualquer coisa para se manterem ativos.

Desta parte é bem representativa a Folha de SP com sua atitude quixotesca de lutar contra o PT virou sua bandeira. Isto se expressa no seu ataque ao ENEM, CPMF e sua atitude de tolerar e abrir espaço para manifestações neofascistas em suas paginas com matérias com representantes destas posições como se fosse democrático dar espaços a este tipo de gente.

Mas aqui vem o outro lado, numa atitude pouco inteligente, muitos companheiros continuam na trincheira e trocando “tiros” em particular na internet. Parece que não vencemos a eleição, temos que dar lição de civilidade. Cair nos debates rasteiros de um 3º me parece absolutamente fora de propósito. Ao invés de nos qualificarmos para fazer um grande novo Governo, nos rebaixamos a discutir temas secundários, fazendo-os crescer, e perdemos o foco.

Temas como o explosivo comportamento de ataques aos nordestinos, homossexuais, que a meu ver pode ir à direção também dos negros, judeus, ciganos etc. Devem ser entregues a PF e MPF, não pode transformar-se em nosso cotidiano ficar vigiando paginas destes celerados ou ficar dando-lhes  mais mídia. Minha visão é que devemos simplesmente ignorá-los não lhes dar NENHUMA publicidade, apenas fazer denuncias às autoridades competentes, senão viveremos de um comportamento insano de intolerância, não é nosso foco.

Nossa Agenda

Aos apoiadores de Dilma, que estão no campo da continuidade das mudanças começadas com Lula temos muito, mas muito a fazer, temos que elencar a nossa real agenda, e sair deste tiroteio de 3º turno inexistente, a agenda “Mico” não pode substituir a nossa real preocupação com o futuro, eis alguns temas candentes:

1)    Relação do Brasil com G20;

2)    Questão da nova guerra cambial/comercial;

3)    Recomposição de forças no cenário nacional, novo pacto federativo com reforma tributária;

4)    Pré Sal e seus ganhos para sociedade: Educação, Saúde e erradicação da pobreza;

5)    Reforma política e relação partidária no congresso;

6)    Tecnologia: PNBL, AI5 Digital;

7)    Marco regulatório das comunicações;

8)    Voltar aos padrões civilizatórios de convivência social, de uma condenação cabal às manifestações Neofascistas, com punição exemplar a quem as pratica;

São grandes temas que discutimos pouco e darão o corte no novo momento que passaremos a viver. A perspectiva de Dilma fazer um governo mais “técnico” com composição mais preparada para dar respostas políticas, mas principalmente técnicas aos grandes temas, deveria ser nosso norte.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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