Lula e as mudanças que não se enxergam
Devemos lembrar-nos do ano de 2002, para entendermos o Governo Lula e o exato contexto de mudanças:
Situação Política e Econômica pré Lula:
- Janeiro de 1999 uma desastrada maxi-desavalorização do real elevou de 1, 12 para 2,17 em apenas uma semana;
- O governo privatista FHC se esgotou em 15 dias após a posse;
- Os três anos seguintes foram de extrema letargia, baixo crescimento e todos os “ganhos” das grandes privatizações foram consumidos no imenso déficit das contas públicas;
- Iniciado o ano da sucessão a oposição comandada por Lula era amplamente favorita;
- Apesar da melhoria da economia em 2001 o governo politicamente estava derrotado;
- Abril de 2002 o Dólar estava no cambio flutuante no valor de R$ 2,32. O risco país em torno de 800 pontos (dados do BC);
- A candidatura governista e da imprensa e dos empresários o Sr José Serra não alça vôo é uma candidatura que ruma ao fracasso;
- Em meados de abril/2002 o Sr Luiz Fernando Figueiredo Diretor de Política Monetária do Banco Central modifica a política de prefixação de rendimentos dos fundos de investimentos. Antecipando os vencimentos dos títulos públicos fixados em dólar;
- A medida, aparentemente técnica, na verdade revela-se uma tentativa de golpear a oposição, pois com ela todos os índices econômicos são alterados radicalmente;
- Em um mês o dólar salta pra três reais, o risco país vai a 1500 pontos. A imprensa pró-FHC e seu candidato espalham boatos que a culpa deste desarranjo é a expectativa de Lula ser Presidente;
- Este clima de terror eleitoral foi maligno para o país entre o primeiro e o segundo turno o dólar chegará a 4,04 e o risco pais a 2500 pontos, o IGPM que remunera alugueis e tarifas publicas vai a 30%;
Lula recebe a “herança maldita”
O país acaba pedindo 25 bilhões de dólar ao FMI em Dezembro de 2002 e aumenta a taxa de juros para 23,5% ao ano. O novo governo tem de lidar com um país saqueado, política de terra arrasada.
Todos os planos de mudanças urgentes e estruturais serão adiados, pois se precisa primeiro não deixar o país falir de vez. Todo o esforço de Lula foi convencer aos empresários e investidores estrangeiros que ele não porá fogo ao país, não dará calote, não deixará de cumprir os contratos mesmo àqueles que foram draconianamente elaborados.
“herança maldita” na Educação
Óbvio que em todos os setores foram sacrificados, os ministérios sociais (Saúde, Educação) não ficaram imunes a este tempo bicudo. A educação foi entregue ao Sr. Cristovam Buarque, conhecido como grande produtor de idéias, mas se revela um gestor ineficaz, que mesmo com as restrições impostas pela política de poucos recursos foi incapaz de inovar na gestão.Sua gestão foi marcada praticamente uma continuidade da desastrosa gestão Paulo Renato, talvez o pior Ministro da Educação do Brasil.
Pouco também diferiu a gestão “tampão” de Tarso Genro, uma acomodação política às forças governamentais.
Fernando Haddad o grande salto
A grande mudança no governo Lula em relação à educação dar-se-á na gestão Haddad.
Seu grande mérito é a valorização da Educação pública de qualidade, em contraposição as políticas de diminuição da presença do estado na educação, com a imensa profusão de faculdades particulares.
O desmonte das universidades e escolas técnicas foi visível, o fechamento de concurso para contratação de novos professores, servidores, diminuição de vagas de novos alunos, a desmotivação por salários que ficaram oito anos sem reajuste, a defasagem de equipamentos quase levaram a total falência destes centros de educação.
Desde 1998, no auge das privatizações o Sr Paulo Renato intui que poderia dar o golpe fatal na educação federal proibindo a criação de novas escolas técnica e centro tecnológicos, numa visão de que a estadualização e municipalização cobririam este vácuo, mas no fundo a idéia era que a iniciativa privada, assim como nas universidades particulares que proliferavam, também cuidaria de abrir estas escolas. Provou-se infrutífera esta tentativa e as conseqüências é a falta desta mão de obra qualificada altamente necessária a economia de um país que pretende desenvolver-se.
O novo modelo de desenvolvimento experimentado iniciado em 2005 revelou a grande defasagem da formação técnica no Brasil virou uma contradição que no momento que o país passa a crescer de forma consistente tem-se a falta de profissionais, em particular os de nível médio.
A firme decisão de investir em novas escolas e centro tecnológicos está mudando um pouco esta realidade, porém ainda há muito há o que se fazer, pois a educação de base ainda é muito ruim, os novos esforços de melhorar a qualificação dos professores, bem como a conquista de um piso nacional salarial mais digno é o começo desta virada.
Sem dúvida há uma política diferenciada em relação ao governo anterior:
Governo anterior
a) Visão privatista;
b) Privilegiava a iniciativa privada;
c) Desmonte da educação federal de referência;
d) Qualidade medida sob parâmetros de Mercado;
e) Desvalorização do funcionário publico;
Governo atual
I) Visão Pública
II) Privilegiar a educação publica;
III) Novas escolas e universidades federais;
IV) Revalorização dos funcionários públicos;
V) Qualidade medida sob parâmetros sociais;
Problemas comuns
A lógica do mercado capturou muitos gestores públicos levando a uma falsa visão de que o que é público é ruim, de péssima qualidade, criando uma baixa auto-estima terrível e uma condição de debate político e ideológico extremamente desfavorável.
Agora com a queda do “muro” de Wall Streat, abre-se uma vaga para uma discussão mais justa sobre gestão pública x gestão privada.
Parabéns pelo artigos. Gostei da parte da educação, realmente o Cristovam foi uma decepção.
Bom artigo.
Esclarecedor, já há algum tempo esperava por um texto comparativo como este.
É gratificante saber que há gente preocupada com a boa educação e atuando a seu favor.
Me manterei atento às postagens no “blog”, espero por mais.
um artigo esclarecedor
Parabéns pela sua análise entre o governo Lula e FHC. Por favor, permita a minha humilde opinião. Infelizmente não concordo totalmente com seus dados. :-)
Em primeiro lugar a sua análise está ótima sobre este período. Permita que eu me aprofunde um pouco mais ?
Eu acho que poderia avaliar um fator macro econômico político iniciado no governo Itamar Franco. Não é possível ter uma noção de quadro comparativo sem fazer uma profunda análise da conjuntura política que foi iniciada neste governo e posteriormente continuada no governo FHC e em parte pelo atual governo Lula.
É importante destacar um ponto positivo entre o governo Itamar, FHC e Lula. De uma forma coerente, eles seguiram a política econômica de estabilização. Estes 3 governos melhoraram o processo democrático. É obrigação de todo bom governo dar continuidade nos projetos que atendam as necessidades do povo.
É claro que na área social e distribuição de renda o Governo Lula foi muito superior e muito a FHC e Itamar, fato este já muito bem mostrado no blog.
A questão da educação embora seja em qualquer tempo a maior prioridade “falada por todos estes governos”, dependeram sempre de políticas públicas de sustentabilidade social e claramente de inclusão se comparado ao cenário de 1994. Não é possível fazer um bom incremento educacional com as nossas crianças e pais passando fome. Vejo vários avanços na gestão Lula. Neste ponto eu vejo uma enorme diferença entre os 3 governos.
O(A) próximo(a) presidente(a)deverá dar continuidade a estes projetos ou irá governar para 4 anos apenas. Na minha visão o Brasil é reconhecido internacionalmente e a nossa população confiante e orgulhosa em sua maioria. É claro que nem tudo são flores e o momento é de atenção, vide as eleições do Chile e o recado dedo nas urnas pela população daquele país ontem.
Embora o Chile seja similar ao Brasil em alguns pontos, penso que possa traçar um paralelo entre as políticas públicas como educação, saúde e habitação. A transferência de votos da enorme popularidade do Governo Chileno não foi garantia neste caso de vitória nas urnas. O governo Lula deve estar atento e precisa entender que embora o plano de governo seja bom, o(a) candidato(a) pode fazer toda diferença. Continuarei confiante de que o caminho atual será vitorioso para o atual governo. O Brasil precisa continuar olhando em frente e de cabeça erguida.
Vejo hoje uma estrada sendo pavimentada e sua infraestrutura sendo elaborada com o PAC e isto não pode parar.
Eu sou realista, o Brasil está melhorando a cada ano, mas é preciso dar continuidade. A política de transparência e participação popular deve ser aprofundada, debatida e exercitada. Não há espaço para ficar inventando moda. Fazer o básico é obrigação de qualquer governo. Respeitar o povo, a constituição e os direitos humanos é a marca do governo Lula e ficará evidenciado com a aprovação do PNDH em breve.
Para alguns meios de comunicação, deixar o povo feliz é ser populista. Grande engano desta mídia corrompida, fazer o nosso povo feliz é obrigação constitucional de QUALQUER governo. Oferecer meios para dar dignidade as pessoas, cidadania, educação, saúde e habitação é DEVER constitucional. É incrível como no passado esqueceram de fazer isto quando eram governo e hoje falam como se fosse algo do outro mundo.
Espero que em 2016 as projeções se realizem e possa ver as pessoas nesta estrada indo e vindo com tranquilidade e orgulhosas como eu estou. Irão gritar para todos ouvirem, eu sou brasileira e abre as portas que eu quero passar. Seremos a 5ª potência no mundo e se bobearem a 4ª :-)
Parabéns pelo blog e seus posts sempre de bom gosto.
Grata.
Os: Desculpe a resposta longa, rsrs, primeiro dia de férias após 4 anos. :-)
Marly,
O que você escreveu dar um belo post,se quiser sistematizar publicaria com prazer para partilhar com os amigos que aqui acessam.Você tem toda razão em incluir o período Itamar, mas como no artigo era contraponto(Lula x FHC) acabei abreviando, basta lembrar que o plano real foi obra de Itamar e também a lei do genéricos, que o Sr Serra tenta se apropriar.
Estamos aqui para debater em bom nível, obrigado pelos comentários,
Arnobio Rocha
Adorei o seu artigo.
Eu o li no Portal do Nassif, que me faz feliz de ver que exixte gente séria, comprometida com a verdade, fora da mídia golpista e que nos dá oportunidade de ler mais profundamente o nosso País.
Caso tenha para me indicar algum livro que verse sobre o conteúdo de sua crônica, de forma a ter mais dados para estudo, eu gostaria de sabê-lo.
Se for possível me indique.
Abraços
ProJosé Roberto de M. Abramo
José Roberto,
Obrigado pelos comentários, estes dados e artigo foram “garimpados” sem uma unica fonte, assim como você procuro mídia alternativas, como as revistas carta capital, caros amigos, forum. Além dos blogs independentes: Nassif, do Azenha (www.viomundo.com.br), conversa afiada, mas se você olhar no meu blog tem uma série de outros importantes blogs, menores é certo,mas valorosos como o da Maria Fro, do Cinema&outras artes, impertinência.
Ajude nos a divulgar nossos trabalhos, pois queremos ser o contraponto à mídia comprometida com outros interesses que não ao do povo trabalhador,
Abraços,
Arnobio
muito bom
Desculpe mas não concordo em diversos pontos, a começar porque não se leva em conta a situação desfavorável do país quando FHC assumiu o governo, e não se menciona as melhoras apresentadas quando Lula assumiu. Exemplo FHC assumiu com inflação de 70%, Lula com 12% ( fonte DIEESE).
Outra incoerencia, sobre a visão privatista que se afirma ser de FHC, no entanto Lula fez 66 privatizações e há processos na justiça contra a venda inconstitucional das reservas do pré-sal a preço de banana.
http://processual.trf1.jus.br/Processo contra Lula e Dilma….pré-sal.
De forma que a tentativa de resumir um assunto tão complexo acabou por omitir dados importantes tornando-se aparentemente tendencioso.
Permita-me indicar este texto, com um estudo mais abrangente:
http://visaopanoramica.wordpress.com/2009/08/05/comparacao-fhc-x-lula/