Arnobio Rocha Tecnologia Teogonia x Tecnologia (9 – 9/2009)

Teogonia x Tecnologia (9 – 9/2009)

 

Deuses Primevos


A grande Teogonia Grega pode ser grosso modo, dividida em dois momentos bastante distintos a fase um, que tem a haver com a criação propriamente dita: Caos, Terra (de amplos seios), Tártaro e Eros, são deuses primevos, vinculados a idéia de forças da natureza, nada elaborado, crus, com a força bruta e sem grandes elaborações estéticas e intelectuais. Ainda desta primeira geração temos, Cronos, os Titãs, o Mar, a Noite e a mais elaborada das criações desta fase, Afrodite. A segunda fase é a consolidação dos novos deuses, que conquistaram o Olimpo e farão de Zeus, seu soberano, aqui esta nova geração luta contra a anterior e domina a “Natureza”, e já constrói para si morada e têm um modo de vida já mais elaborado, intelectualmente superior e esteticamente lançará bases de toda cultura ocidental. Também aqui teremos duas fases internas bem definidas do ponto de vista estético e intelectual: a fase Apolínea e a Dionisíaca.

Apolo


 

Obviamente que cada “tempo” corresponde ao grau de desenvolvimento do mundo grego, a geração primeira são as fabulosas criações do homem que se fixa na terra e tenta entender os fenômenos a ela associados: as estações do ano, a terra “grávida”, a época da colheita, as lutas ferozes com animais selvagens, a luta pela vida, ou seja, os sentimentos mais elementares se refletem diretamente nos deuses por eles cultivados. A segunda geração vem justamente do domínio da natureza hostil e vencida esta batalha novos desejos objetivos e subjetivos surgem, o tempo outrora gasto para fugir dos males que os atingia, hoje se gastará com coisas mais criativas, como: construção de cidades, esgotos, sistemas de água, armas de guerras mais sofisticadas, a ciência mais elaborada, a experimentação, o cálculo matemático, a nomeação das estrelas, a construção de casas melhores e maiores, os templos, as belíssimas estátuas, vasos, os códigos rudes e leis e justiça, os governos ditatoriais, esta é a fase Apolínea, do Deus Apolo, o grande engenheiro, arquiteto, matemático, o moralista e justiceiro autoritário, a fase do pensamento exato e calculado.

Dionísio



Entramos enfim no apogeu grego com o advento do “ócio criativo”, todas as conquistas do período Apolíneo se refletirão no surgimento da alta cultura, que é consolidada com a fase Dionisíaca, que terá na filosofia, no pensamento elaborado, no Teatro trágico e orgiástico, o grande Ditirambo, e seus mistérios, sua cártase, seu êxtase, o novo padrão de cultura e liberdade. Na fase Dionisíaca já não temos o poder das curvas e formas exatas, mas a ampla liberdade de criar esteticamente livre, a adoção da democracia, dos códigos de leis mais justos, dos debates públicos é que muitos chamam da cultura Dionísio, o Deus da Festa, do mel, vinho, e líquidos. Com Dioniso teremos a consolidação do poder da imagem, da linguagem, da beleza, da comunicação de massa, o apogeu da cultura grega, a preocupação de formar ideologia e sem dúvida até hoje bebemos daquela infindável fonte.

 

Educação Formal


 

Alguns devem ter desistido de ler, o que é uma pena, mas àqueles que perseveraram, vem o elo com o presente e o futuro, lógico no meu ponto de vista, tudo que escrevi acima é uma reflexão e uma metáfora que construi para simbolizar o que somos hoje, nós que trabalhamos com engenharia e tecnologia. Tudo o que não sabíamos e construímos no pós-guerra (o Caos, a Terra, o Tártaro e Eros), passando pelo surgimento da moderna Engenharia e Ciência (Apolo) vem desembocar no hoje livre, democrático, criativo, linguagem cifrada (Marketing e Inovação)

Será que nós, que fomos educados na cultura Apolínea, já demos nossa virada? Nossas cabeças estão prontas a aceitar a nova estética? Será que nosso desemprego ou subemprego é por que não nos adaptamos aos novos tempos? Sem dúvida não é uma questão de idade, basta lembrar que Eurípedes tinha mais de 40 anos quando escreveu “As Bacantes”, e é nela que temos o principal rito dionisíaco, ou seja, os fundamentos da modernidade grega.

Para mim, nunca tivemos tantas chances de fazer tanto como agora, parece louco o que estou escrevendo, mas é que o resultado de toda esta contradição que vivemos (desemprego x Inovação, Marketing x Engenharia) é um profundo processo criativo, informativo, qualidade de vida, estético. Nunca na história tivemos tantas oportunidades de construirmos um mundo melhor como agora, o que nos falta? Começar a fazer… A única coisa que devemos consolidar neste momento é nosso compromisso com a ética (nos negócios, na política, na vida privada), a solidariedade (construir um mundo melhor para si e para todos) e igualdade (para ser justo temos que ter direitos iguais e acesso ao direito igualmente). Com este três valores, com a gama de informação, com nossa inteligência vamos mudar o mundo, primeiro mudando nossa vida, estudando, debatendo, ouvindo, ensinando e aprendendo.

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