15 de dezembro de 2025

6 thoughts on “841: O Centro de São Paulo, Umbigo e A Virada Cultural

  1. Interessante e estimulante seu post. Creio que quem devia palpitar sobre ele é o William Fagiolo, urbanista. Entendo pouco, mas ousarei alguns palpites. Acho que o crescimento natural das cidades é para fora e ao redor dos seus núcleos formadores, o “sprawling” urbano, espalhamento urbano, desorganizado, mas amplo. Só que em muitas delas o centro passa a ser ocupado como sede comercial, de negócios, vide Londres, Nova York, e as áreas residenciais se espalham para fora, formando os “suburbs”, que não são nossos “subúrbios”, mas zonas residencias de classe média ou alta. Com isso, os centros originários se tornam áreas especializadas, e ocupadas. Hoje sabe-se que há em muitas dessas cidades, Nova York, p.e., um movimento de retorno aos centros antigos, para outras funções: ateliés de artistas, museus, etc. e residências tb, pq a desvalorização dos imóveis, com a saída da classe média e alta, permite alugúéis mais baratos. É o que está acontecendo no Rio. Não chamaria isso de processo de revitalização ordenada, pq, na verdade, o centro nunca deixou de ser ocupado. Nunca deixou de haver vida neles. Se a vida se degradou, como é visível em São Paulo, creio que foi fruto da desigualdade e discriminação social, da elitização das outras áreas, do aumento do preconceito, da vinculação ideológica entre centro-violência-segregação urbana, e do descaso dos órgãos públicos pelos sistemas de urbanização, saneamento, transportes etc. A cidade de São Paulo me parece ser bem mais dividida socialmente do que o Rio. Algo está mudando, porém, em São Paulo, e essa virada cultural mostra que as pessoas desejam e se sentem felizes em andar pelas ruas num fim de semana, participar de atividades culturais e entretenimento. Ocupar “sua” cidade. Basta que se lhes ofereçam as oportunidades. No mais, cabe às autoridades zelar pela tranquilidade da festa urbana, como em todo e qualquer lugar do mundo.
    Até quermesse.

    1. Vera,

      Seu comentário é melhor do que o post, este texto era para ter uma parte II apenas sobre a Virada Cultural, mas meu amigo desistiu, fiz apenas o apanhado de como observo a cidade que moro e tantas outros que morei e conheci. Em Tókyo, por exemplo, parte do centro é degradado, confuso poluído ao extremo, entretanto, a questão de espaço exíguo, somado ao Palácio imperial e Parlamento ficarem nesta região, acabou quase num empate. Uma grande area que vai de Ueno até Akihabara é algo bem feio de ver, do outro lado de Shunjuku a Harajuku é melhor. E o miolo é mais equilibrado. Contundo, mesmo lá, o Centro é região complicada de viver e se divertir.

      O deslocamento das classes médias e altas, para longe do centro, dificuldade de transporte, mesmo com o metrô para vários locais, como aqui em SP, fez o centro decair ao extremo. A sua recuperação, como espaço público, social e humano é vital para revitalizar uma grande cidade. Em regra, ali se concentra a história, a fundação e a chama que deu origem ao sonho da cidade, por isto amo tanto os centros de cidades, faço questão de ir conhecer, ali me sinto verdadeiramente respirando a cidade.

      Arnobio

    1. Lufeba,

      O ponto de partida foi o artigo do Ricardo, que é brilhante, o meu tem a preocupação de mostrar o fim do centro é ou pode ser o fim da cidade, da origem e sua maior identidade. Você é um grande conhecedor da antropologia, sabe muito bem a importâmcia vital do Centro para toda cidade.

      Abraços,

      Arnobio

  2. Eu pouco conheço da Virada Cultural, apenas acompanho por comentários de amigos há vários anos. Nunca fui a nenhuma e não posso avaliar tecnicamente o motivo de ter havido um aumento esse ano. Já ouvi argumentos de variados matizes e acho uma pena que um acontecimento cultural do peso deste seja julgado prioritariamente por isso.
    O centro de nossas metrópoles vem sofrendo um abandono que foi muito agravado por ocupações eminentemente diurnas. E acho super válido que as autoridades municipais façam de tudo para mudar essa característica e fazer com que os centros voltem a ser opções culturais permanentes e pontos de diversão em todos os horários. Arrastões, roubos e violência acontecem em grandes aglomerações de gente. Partidas de futebol e shows que o digam. Mas nem por isso os holofotes são focados nisso. Há que se estudar os motivos e alavancar alternativas para que as próximas viradas e outras promoções culturais possam acontecer com mais tranquilidade,

    1. Elenara,

      É este olhar humano e criativo do arquiteto, não apenas de concreto, mas de espaço que devemos captar. A Virada é este momento de mobilidade e força humana, da relação das pessoas com sua cidade, em particular seu Centro, sua origem.

      Abraços,

      Arnobio

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