Preta e Gil – Quando um Pai perde uma filha!

Preta e Gil, um momento especial juntos eternamente.

Drão
O amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar, ressuscitar no chão
Nossa semeadura
(Drão, Gilberto Gil)

Esses dias foram doloridos por demais, foram dia de sentimentos complexos, de identidades e de sofrer interno. Por conta disso, então busquei me distanciar das notícias da morte da cantora, compositora, artista, Preta Gil, filha de Gilberto Gil.  A perda dele criou em mim, uma aproximação estranha dele (ainda que tão longe) comigo, não se trata de qualquer perda, essa é a maior de todas elas, de uma filha, pois há uma relação complexa, densa e profunda de pai/homem e filha/mulher, do saboroso amor especial e tão imenso que nos faz seres melhores, humanos e ternos, nos faz gente.

Passei por essa provação de viver uma dor prolongada por 8 anos e meio, de 11 de junho de 2010 até 18 de novembro de 2018, em que minha pequena Letícia, com menos de 13 anos, atravessou sua adolescência, juventude ameaçada pela terrível leucemia que lhe visitou três vezes, sua saga de luta feroz, as mais de 200 sessões de quimioterapias, as liquor (líquido cefalorraquidiano (LCR), também conhecido como líquido cerebrospinal), os remédios ministrados que lhe tiravam o sono e a sanidade, o desejo dela viver e amar a vida, naquelas contradições de morte à espreita, o quanto me transformou como gente.

Penso que o mestre, avatar, o grande ser humano, Gilberto Gil, sofreu por Preta (um nome revolucionário e lindo, desafiador), em que deve tantas vezes ter preferido que as dores ele sentisse e não ela, que se houvesse um fim, que fosse o dele mesmo e nunca dela, porque o amor de pai/filha é incondicional e visceral, que o sofrimento dela, é/era dele, não em menor medida. Imagino que ele deve ter tido a frustração (eu as tive tanto) que não fosse ele o doente,  que padecia, mas era em Preta, o sofrer. Certeza que Preta tantas vezes deve lhe ter poupado, assim como fui poupado por Lelê.

Pedimos por elas, não por nós. a vida nos deu anos, experiência, vivência, mas não nos ensina a perder uma filha, nossos maiores amores, que se explica por si, não precisa mais nada, existe e nos diz tudo e nos cala fundo. Gil tem longa e bela prole, nenhuma é Preta, nenhuma substituirá, pois casa relação é linda e profunda, ele sabe bem mais do que eu, mas tenho minha Luana, com ela tenho toda plenitude, o mestre Gil, tem com as demais filhas.

Sabemos bem quando sentimos que elas partirão, algo nos diz, nos manda avisos, porque o sofrer delas é maior e injusto, não somos egoísta, mas queríamos ver, tocar, ouvir, sentir o cheiro, os sorrisos, as palavras que batem fundo em nossos corações de pai. Nesse instante sentimos que a libertação de nossas filhas é sua partida, a vida não será a mesma porque a ordem da natureza foi invertida, a despedida seria delas para conosco, não a nossa para com elas.

Viva, Preta, viva, Letícia, valeu a pena as suas existências. Obrigado, Gil, suas músicas me trouxeram paz no meio do desespero. Com todas as lágrimas do mundo, meu abraço!

Quem poderá fazer aquele amor morrer?
Se o amor é como um grão
Morre, nasce trigo
Vive, morre pão

 

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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