“A vida humana não dura mais do que a contagem de um.” (Hamlet – W. Shakespeare)
A vida fluiu rápido demais, infelizmente (ou seria felizmente?) só nos demos conta quando o nosso tempo passou, resta pouco de nós, do que um dia sonhamos ser, pior, do que achávamos que éramos. É cruel constatar que tudo se foi num piscar de olhos, como uma gota de lágrima no oceano, ou aquela lágrima na chuva do androide.
Um breve instante é o nosso viver.
A relação do tempo pessoal (individual) com o da história, da escrita, da consciência humana que superou o estado animal, para virar o mais encantador e mais pernóstico dos seres, é mínimo, mas palpável, até nos iludimos que possamos escrever nosso nome em algum lugar. No entanto, comparado com o tempo do surgimento do universo, somos um nada, uma meia vírgula. Olhamos para o cosmos e um dia virá outro big bang, seremos poeira, voltaremos ao pó.
A consciência de que já somos apenas memórias, boas ou ruins, mais essas do que aquelas, cria uma espécie de dor mais profunda, primeiro de negação de si, de um certo desespero de que nada fizemos, ou o pouco que fizemos não tem quase nenhuma importância, pelo menos a maioria de nós, Depois de aceitação de que não era nosso destino mudar o mundo e nem mesmo as pessoas, era apenas sermos mais um.
O que as moiras fiaram sobre nossos destinos, raramente interpretamos corretamente, passamos a nos iludir de que somos mais do que nos cabia e vamos mais fundo do que era nosso metron, hoje, parece tarde para entender, agora é redução de danos.
Aqui não se trata de mágoa, de se maldizer, é apenas uma constatação de nossa brevidade, o que nos resta, que ela não seja em vão, mesmo o tempo tendo fluído, o tempo porvir possa ser melhor e mais leve, ainda que isso seja apenas um exercício de fé, não que efetivamente se torne fato, pois as contradições de nossas vidas criam um paradoxo entre desejo e realidade.
Vivi “meu” tempo entre esperança e desassossego, o segundo muito mais que o primeiro, o que me lembra o Prometeu que disse que inoculou o pior mal ao ser humano, a esperança, até então, éramos apenas medo e sobrevivência, talvez, continuemos a ser assim, sem nenhuma certeza de que amanhã cairá o salário, ou que ele dê conta de nossas necessidades.
Nem mesmo que a vida, hoje saudável, amanhã não seja de dor, ou que de nós a vida seja arrancada de nós, mais ainda, daqueles que realmente nos importam, que saíram de nós, melhores do que um dia pensamos ser, mas nunca fomos, essa é que é a dura verdade, aquela que apenas o espelho, sem Narciso, nos revela.
Por fim, a lição do bardo alemão de que a teoria é cinza, enquanto a nossa vida é colorida, é a eterna esperança que se impõe.