A companheira Antonella Galindo, grande jurista e intelectual, tem feito ótimas provocações sobre a (falta de) Comunicação do Governo Lula, como se houvesse uma espécie de inércia e ineficiente modo (analógico) de se comunicar, apostando que os índices positivos de PIB, diminuição de miséria e de desemprego, por si, trarão simpatia aos feitos do Governo.
Bem, temo que as coisa, corretamente levantadas por ela, precisem de uma reflexão que deveria ir além da questão da comunicação, aqui não se trata de respostas às indagações da querida professora Antonella Galindo, mas de uma busca de debate que nos ajude a sair dessa situação kafkiana.
Primeiro vejo que talvez não seja uma questão de inércia de comunicação, ela existe, mas não é ineficaz e muito menos é inadequada, como também não é questão de ser analógica, a comunicação, isso é muleta, desculpa perfeita para justificar o entrave..
Há uma significativa mudança ideológica/política/social, que as respostas econômicas, PIB, crescimento, não geram consciência. Há uma real disputa de hegemonia, que perdemos (momentaneamente), identifico que desde a queda do Muro de Berlim, para a esquerda, e que não tem apenas a ver com a esquerda, mas ao conceito de Estado, Governo/representação e Democracia, que é uma disputa ainda anterior, desde a crise do petróleo e a volta do liberalismo (neo e ultra) em oposição ao Estado de Bem-estar social (inclusive à economias do leste).
Somos conservadores, nós à Esquerda, pois defendemos (corretamente) a Democracia (burguesa), ainda que ela esteja em frangalhos.
Nesse sentido, a Comunicação (boa ou má) decorre de um fenômeno mais profundo, não por incompetência pessoal (isso também, quando não identifica o fenômeno), ela não responde ao combate político e ideológico que foi a pá de cal da ex-URSS e seus aliados, como também derrotou a Social Democracia, no Ocidente.
Esse novo embate, tem apenas 35 anos, da queda do muro de Berlim e apenas 15 da queda do Muro de Wall Street, o que liberou a caixa de pandora do ultraliberalismo, hoje, ameaça varrer as forças democráticas da Europa, com o avanço avassalador dos “Outros”, a ultra direita selvagem e destruidora de vidas e do marco civilizatório.
É muita coisa para nossas mentes, com o refluxo da Democracia (repito, Burguesa), ficamos (as várias Esquerdas) órfãos de instrumentos capazes de enfrentar o embate político, ideológico e social, e, apenas, a Economia não é capaz de deter o CAOS.
O sentido disruptivo não precisa de administração, governar, mas se apresentar contra o Sistema, porque sabem que a máquina burocrática e autonomizada (em relação a política) vai gerir e fazer às vezes dos desejos da sociedade, obviamente que são os interesses da micro fração burguesa que domina a Economia.
Precisamos de outros interlocutores que possam dialogar com essa nova realidade política do mundo, talvez com menos pressupostos ou (pré) conceitos sobre a consciência invertida, hoje majoritária. Penso eu que devemos ser mais tolerantes conosco, mais generosos, pouco sabemos de fundo o que fazer, por isso nos acusamos mutuamente, muitos não querem nem conversar com quem apresenta outro diagnóstico, como esse.
Tenho quase 30 anos atuando nesse meio digital, pela minha carreira na área de tecnologia, nunca fui chamado ao diálogo porque as direções se bastam, não precisam ou não querem outras opiniões, ou não têm tempo para reflexão. O que mais fizemos foi desprezar as análises que não dizem amém, que tentam compreender de forma diversa.
São muitas camadas, assim como a própria comunicação.