2419: Um dia


Um dia, a vida de Emma e Dexter.

“Esse dia foi memorável para mim, pois causou grandes mudanças no meu destino. Mas é assim com todo mundo. Subtraia um determinado dia de sua vida e veja que, sem ele, sua vida teria tomado um rumo diferente. Faça uma pausa por um instante, leitor, e pense na comprida corrente de ferro ou de ouro, de espinhos ou flores, que jamais se lhe estaria ligada, se um certo dia memorável não tivesse formado o primeiro elo dessa corrente.”(Grande esperanças, Charles Dickens)

Talvez nunca saibamos o que seria UM DIA Memorável em nossas vidas, nem como diferenciar de mais um dia, de que é apenas um dia, pois a vida é, muitas vezes, tão somente um dia após o outro, em que se venceu ou se perdeu. Uma camada inglória de muitos ou poucos dias, nem mesmo como será aquele DIA, o mais especial, ou dia que não deixamos de ser e viramos a ser uma lembrança daquele DIA.

Vi por acaso um anúncio de uma minissérie “Um dia” (Netflix), um diálogo de uma mãe com um filho, jovem, de vinte poucos anos, perguntando sobre o que pensa sobre o futuro, uma mesa, em Paris, pelo cenário, falavam em inglês, gostei da cena, marquei como favorito, até que resolvi ver, sem alimentar expectativas, nem mesmo saber sobre o enredo.

O dia um, é o encontro entre Dexter e Emma, na formatura em Edimburgo, ele um belo jovem, burguês, branco, inglês, londrino ela uma jovem desengonçada, proletária, filha de mãe vinda da Índia e pai inglês, nascida em Leeds, norte da Inglaterra. Ele aparentemente era o rapaz cobiçado da faculdade, cursada nas farras e apenas pelo diploma. Ela uma dedicada estudante de literatura, politizada e sonhadora.

De um encontro furtivo, no dia 15 de julho de 1988, na festa de formatura, em meio a bebida, muitos casais, encontros, o deles é inusitado e muito improvável, por todas as circunstâncias e ambientes que frequentavam durante o curso e as perspectivas de vida, carreira e sonhos.

A vida paralela do bon vivant, Dexter, nos grandes círculos de celebridades e subcelebridades, apenas em cada 15 de julho, abria a agenda para encontro do príncipe encantado com a cinderela, de proximidade à rupturas, os valores e as aspirações, as frustrações e sem que houvesse oportunidade para um romance, uma chance de amar.

Assim segue os catorze episódios, curtos, entre 21 e 33 minutos, mas que vai da superficialidade, frivolidade (dele) dos jovens de menos de 30 anos, até a densidade da maturidade, da vida real e o preço que cobrará de cada um deles, das viradas próprias da vida.

A minissérie é uma segunda adaptação do livro de David Nicolls, que virou filme com Anne Hathaway e Jim Sturgess, com uma roupagem e filtro típicas de Hollywood. A minissérie procura manter a essência do romance, a escalação de Ambika Mod bem diferente de Anne. Sua Emma é mais cínica e sarcástica do que a Emma que o filme propagou. O Dexter de Leo Woodall manteve a mesma pegada, mas tem mais densidade.

Tantas dores se reabriram, tantas lágrimas e os mistérios da vida, do que me aconteceu.

A trilha sonora é maravilhosa e vai incorporado ano a ano, um luxo.

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