Bebê Rena, no canal Netflix, em que Richard Gadd (criador e ator) mais ou menos conta sua trajetória de vida, baseada em uma peça se transformou na minissérie britânica de longe a mais comentada dos últimos anos, numa palavra, ela é uma: PORRADA!
Quase todas as pessoas em minha volta comentando, falando sobre Bebê Rena, instigando, estava vendo, esses dias INFÂNCIA INTERROMPIDA. Nessa resenha aqui. Então parti para vê a minissérie.
E vi de uma pegada só, os 7 episódios, depois bate a insônia, uma excitação fora do comum, porque ficou a fervilhar tantas ideias e tantos caminhos para uma análise, uma resenha, porque é simplesmente enorme, não é lugar comum, mexe com o consciente e muito mais, com o inconsciente.
Ficção, ou realidade, pois ela se anuncia como uma “história real”, entende-se por real, como algo que pode ter acontecido, mas não importa, o centro é condição humana, todas as formas de expressão de dor, desespero, violência psicológica, paixão, compaixão, ódio e perseguição, em particular por redes sociais.
Descemos num inferno particular vivido por um frustrado comediante, Donny Dunn (Richard Gadd) que trabalha num bar para sobreviver e seu encontro e envolvimento com Martha (a excelente Jessica Gunning), uma stalker/hater (perseguidora) “profissional”, que testa os limites de Donny, ou seria a voz do inconsciente dele?
Uma paixão incomum (de amor e ódio), um relacionamento ambíguo, indefinido, que causa dependência psicológica, as somas de rejeição, de frustração, de sonhos e desejos jamais realizados, criando um sentimento de raiva, medo e violência, de destruir, ainda que não pareça que haja razão.
O mito de Procusto pode ajudar a entender de como a sociedade exige forma, medidas, padrões físicos e de comportamento, inclusive as condutas socialmente aceitas. Procusto corta os excessos, reduz as ideias e ideologias ao “correto”, uma espécie de corretor político e moral.
O fenômeno da exposição e da ansiedade de que receba um e-mail, uma mensagem, um áudio, ainda que indesejado, causando uma alterações psíquicas não tão diferentes de uma dependência química.
Num outro plano, a busca pelo sucesso, custe o que custar, inclusive os valores morais, éticos e a submissão sexual, transformada em violência, abuso e o desejo pelo abjeto, a dependência de relações abusivas, a incapacidade de amar, ou de relações leves.
Talvez, Bebê Rena, mexa e prenda pelos desejos sombrios, o medo do inconsciente e da transgressão.
É uma porrada, sem concessão. Trilha sonora maravilhosa, roteiro, diálogos, monólogos, reflexões que constroem uma grande obra.
Imperdível.