2380: O Ninho: Futebol e Tragédia

A tragédia que ceifou a vida de 10 jovens atletas do Flamengo.

Com muita dor e choro, pois perdi uma jovem filha, então demorei para ver. Finalmente enfrentei o documentário (O Ninho: Futebol e Tragédia – Netflix), feito por Pedro Asberg, Renato Fagundes e UOL,  sobre a tragédia no “Ninho do Urubu”, o centro de treinamento do Flamengo, em 8 de fevereiro de 2019, em que 10 atletas de base, entre 14 e 17 anos, morreram num incêndio dentro de um container que era usado como alojamento.

O Flamengo que de clube falido e endividado no começo da década passada, tinha feito uma reengenharia financeira fabulosa, trocando uma dívida bilionária, para um clube de faturamento e lucros milionários, saúde financeira, um elenco dos mais caros da América Latina, voltando aos títulos e grandes glórias, o CT de última geração escondia a administração irresponsável e criminosa.

A diretoria liderada por Rodolfo Landim, que tinha assumido um mês antes da tragédia, a princípio parecia querer resolver rapidamente, extrajudicialmente, procurou o MP e DPE para uma mesa de negociação com as famílias e de que não barganharia valores, um termo de acordo chegou a ser escrito e revisado, no entanto, um mês depois, o Flamengo roeu a corda e abandonou a mesa de conciliação.

As famílias tiveram suas expectativas frustradas, e a direção do Flamengo passa a negligenciar e muda de postura, reclamando que o valores eram exorbitantes, que a justiça não tinha se pronunciado.

Numa última tentativa de acordo, o Flamengo, marca uma mesa de negociação com as famílias, com mediação do MP e DPE, porém, o Presidente Rodolfo Landim não compareceu ao encontro, mandou um vice-presidente, responsável pelo jurídico, que simplesmente disse que não tinha proposta alguma.

A mudança de tática era dividir as famílias, fechar acordos individuais, para quebrar a união, afastar o MP e a DPE, ainda acusou as instituições de “querer aparecer, tirar um proveito do Flamengo”.

Passaram a defender a tese de fatalidade, acidente, um acaso. Até apareceram os podres de que a diretoria sabia exatamente das condições precárias, agiu com negligência e o resultado da tragédia não foi acidente, caso fortuito. Quase um ano antes da tragédia, recebeu laudo sobre a precariedade do CT.

As denúncias de todas irregularidades foram trazidas pela mídia, o que envolvia a diretoria de Bandeira de Mello, o homem do milagre, e seu sucessor, Rodolfo Landim.

Uma sessão pública de uma CPI dos incêndios virou um espetáculo dantesco, todos os dirigentes, antigos e novos, do Flamengo negaram saber de quaisquer irregularidades, mesmo confrontados com e-mails e documentos assinados por eles, uma humilhação para as famílias.

Após esses episódio, da CPI, contando com o tempo de esquecimento, as matérias da mídia começam rarear, alguns jovens atletas que vivenciaram a tragédia, dos 16 sobreviventes, apenas 2 continuaram no clube, os demais foram desligados, sem maiores explicações, um funcionário que ajudou e salvou vidas naquele dia, também foi demitido. Nenhuma negociação foi feita coletivamente, ou por baixo valor, contando que a maioria das famílias não têm condições de litigar e aceitam acordos ruins. Apenas uma continuou na justiça e venceu, em fevereiro de 2024, mas o Flamengo podia recorrer.

Negociar, discutir valores, é reviver a morte, é um processo doloroso e covarde, o poder da instituição e o poder econômico, venceram mais uma vez,

Ao mesmo tempo, naquele, 2019, o Flamengo gastou 150 milhões com compras de atletas, com salários milionários. Parte da torcida que era a favor dos garotos, passa a incorporar o discurso de que as indenizações podem prejudicar o clube. Enquanto a diretoria do Flamengo negociava para baixo valores e ameaçava não negociar mais, continuou a esbanjar em contratações milionárias, contratos milionários com patrocinadores.

Entretanto, se pagar, soaria uma confissão de culpa por tudo?

A resposta do Flamengo à tragédia foi vergonhosa e até hoje, 5 anos depois, apenas as famílias perderam, o clube usou da força da sua máquina para varrer para debaixo do tapete, essa mesma diretoria é envolvida com o bolsonarismo o que não é um mero acaso.

PS: Passei por isso com o Hospital em que minha filha morreu, sofri isso na pele, me venceram pela dor, pelo cansaço, por não querer mais reviver a morte trágica dela. Olha que nós apenas pedíamos para saber como ela morreu, que admitissem os evidentes erros, nos trataram como idiotas. Eles simplesmente ganharam, não suportamos, chegaram a pedir uma proposta, com muito sacrifício mandei, eles ignoraram. Então, sei como é essa dor, esse horror, até de me sentir culpado, por pleitear algum valor, pelo que sofremos todos em casa, tratamento psicológico, psiquiátrico, remédios, diminuição da capacidade de trabalho. A perda da minha filha não tem volta.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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