Corra não pare, não pense demais
Repare essas velas no cais
Que a vida é cigana
É caravana
É pedra de gelo ao sol
Degelou teus olhos tão sós
Num mar de água clara
(Caravana – Geraldo Azevedo)
Era só mais um domingo comum, como dizia o folheto da missa, nenhuma data relevante, nem aqueles períodos de reflexões religiosos.
Apenas um domingo comum, de tão ordinário nem clássico nacional ou regional teve, pois nada importante se celebrava, as manchetes dos jornais eram de véspera, o almoço foi o resto do sábado, acordara tarde e sem vontade de tomar café ou ir à feira, a preguiça era proporcional ao frio e o nada a fazer daquele domingo.
De tão miserável foi, que só poderia ser um domingo, ligar a TV era certo que a maior emoção seria um filme inédito naquele dia, pois já fizera estreia numa segunda, repetira quarta, sábados, mas era vendido como novidade, apenas porque no domingo ninguém lembra dos outros dias.
Tudo naquele dia era cinza, cinzento, o frio medonho, nenhuma fresta de sol, os ossos doíam, nem com casacos surrados postos no corpo, como se fosse cebola, aplacava o tremor, sem ser febre ou calafrio, a sensação é que o calor abandonou o corpo, neste domingo.
A casa bagunçada e a pia cheia, apenas o caneco da água milagrosamente limpo, a preguiça dominava a alma, os pensamentos perdidos nas incertezas de como aquele dia triste terminaria, se uma insônia fecharia, ameaçando a segunda que chegaria com seu peso.
Eis que se fez sol, quase no fim do domingo, vibrante, cheio de vida e esperança, era apenas um instante, uma luminosidade inconfundível de outono, avermelhado, encheu de alegria, todos as roupas foram despidas, para sentir o breve calor, por 15 minutos de vida.
Ao fim, houve uma luz!