A humanidade criou seus deuses, religiões, seitas, gurus, guias espirituais, seres superiores, pela não aceitação de nossas imperfeições, então tenta se mirar em algo etéreo, esotérico como forma de ter paradigmas de perfeições e ter um caminho, um alento, uma purgação para suas máculas, mazelas e vergonhas, algumas vezes uma busca demasiadamente humana para se sentir melhor, quase uma redenção.
Detesto os moralistas, aqueles que se comportam como se fossem um Catão, que faz parecer que estão acima do bem e do mal. Sou ateu e essa coisas higiênicas, puras, lembram religião (no pior sentido), estou no outro polo, o do “pecador”, e que acredita que a vida é cheia de imperfeições e como dizia meu velho pai: não vim para consertar o mundo, mas para colocar alguns catabilhos (ondulações) nas estradas da vida.
Contraditoriamente, há sublimes perfeições, coisas inacreditáveis, de tão fora do comum que nos fazem admirar profundamente, como, por exemplo, a voz de Milton Nascimento ou de Elis Regina, os versos de Chico Buarque e Tom Jobim, o teatro de Nelson Rodrigues, a prosa de Machado de Assis, Clarice Lispector. A imensidão de Shakespeare, Dante, Homero, a música de Beethoven e Bach, o rock de Led Zeppelin, do Pink Floyd.
Uma canção (I´d rather go blind) interpretada por Rod Stewart e tocada na guitarra de Carlos Santana, ou tantas performances geniais no cinema, como Anthony Hopkins em “Meu Pai”, um filme de Peter Greenaway (Prospero´s books), Maria Callas cantando ópera. Quem sabe um gol de Pelé, um drible de Maradona, a jogada impossível de Messi, um passe de calcanhar de Sócrates, uma enfiada de bola de Zico.
Isso tudo eleva a humanidade à outro patamar, para que ela se reconheça como imperfeita, mas capaz de se superar.