Arnobio Rocha Política O trabalho escravo, racismo estrutural e alternativa do modelo do MST no campo

2260: O trabalho escravo, racismo estrutural e alternativa do modelo do MST no campo


A produção orgânica do MST é a alternativa aos produtos com o sangue da escravidão.

A revelação do resgate de 207 trabalhadores rurais em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, chocou o Brasil. Os trabalhadores vindo da Bahia viviam em condições análogas à escravidão, na colheita de uvas, que seria usadas na preparação de sucos e vinhos, pelas empresa Salton, Aurora e Garibaldi, que tentam se dissociar da prática, como se não tivessem responsabilidade pelas compras terceirizadas.

A escravidão é uma chaga aberta no Brasil, por mais de três séculos o uso da mão de obra, o tráfico humano de nosso irmãos trazidos à força da África e vendidos como animais, cerca de 40% deles morriam nos navios negreiros antes de chegar ao Brasil.

A “libertação” tardia da Escravidão no Brasil, em 1888, no fim do segundo império, revela como as classes dominantes brasileiras/portuguesas eram/são perversas, nunca tiveram compromisso com a reparação histórica, ou dão um jeitinho para continuar uma prática desumana, degradante e que é um crime contra a humanidade que fere a imagem do Brasil no mundo.

O Sul (não) é meu país, definitivamente.

No entanto, é preciso dizer que esse expediente hediondo de escravidão é comum em todas as partes do Brasil, não apenas no Sul, ou no Sudeste. É praticado privadamente com empregados domésticos, ou larga escala, especialmente no campo, mas também na cidade, contra a população negra, imigrantes de várias nacionalidades, valendo-se da condição de ilegais ou do pouco conhecimento da língua.

O repúdio às marcas (Salton, Garibaldi e Aurora, por enquanto), deste último caso, não deve ser meramente conjuntural. Uma apuração firme, com ampla defesa,  mas com a responsabilização rigorosa dos envolvidos.

Criação de uma política de cobrar medidas que firmem o compromisso de mudanças das empresas, para além da imposição de sanções econômicas e reparatórias/indenizatórias, que possa servir como uma forma de educação nacional na condenação de qualquer prática de escravidão ou de descriminação racional ou de xenofobia.

Todas as políticas públicas de reparação da chaga da escravidão são duramente combatidas pela Burguesia brasileira, pouca afeita ao próprio capitalismo. Até medidas simples como, por exemplo, de direitos trabalhistas de empregados domésticos, foram duramente criticadas, as vagas de cotas nas universidades, nos concursos públicos, mesmo em empresas privadas não são aceitas, está no DNA nacional essa praga da exclusão social e racismos estrutural.

“Mas não somos racistas, nosso melhor amigo é um negro”, essa infame frase perdura e é repetida tantas vezes, o que corrompe nossas inteligências com tamanha ofensa.

Nessa crise da indústria de vinhos e sucos do Sul, marcada pelo trabalho escravo, fez crescer a procura e pontuar a diferença da produção orgânica e de qualidade dos produtos dos acampamentos e cooperativas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que cada dia mais chega à mesa dos brasileiros, sem intermediários e com uma marca profundamente ligada à luta pela reforma agrária, frente ao modelo do agro.

A importância do MST é crescente no cenário mundial, um exemplo de movimento coletivo e de luta, não mais visto como “terroristas”, mas como movimento rural de cooperados, com sua produção orgânica de qualidade, longe de agrotóxico e que prejudiquem a terra, o meio ambiente e o clima.

Vamos brindar com os produtos do MST, usar o boné e defender a luta pela terra e dignidade.

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