2259: A situação caótica do Centro de São Paulo

A resistência, a luta por moradia e dignidade em São Paulo.

Hoje andei pelo centro velho de São Paulo e é assustador sua decadência, por uma linha quase reta saí do final da rua Santa Ifigênia com a Rua dos Gusmões, por toda sua extensão, passando pelo Viaduto Santa Ifigênia, chegando na rua Boa Vista até a Praça da Sé, atravessando ao lado da catedral e depois uma parada na padaria Santa Tereza, com seus 151 anos e finalmente a praça da Liberdade.

São quilômetros de uma caminhada dolorosa, dói perceber como a cidade, seu umbigo, se perdeu nos últimos 40 anos, especialmente nesse tempo em que vivo em São Paulo, desde as minhas primeiras visitas e definitivamente em agosto de 1989, quando vim morar nessa cidade que acolhe e devora, seus filhos e agregados.

Os belos prédios de imponentes fachadas apodrecem, sujos e detonados, de uma cidade de quase 500 anos, em que seus donos exploram intensivamente, até não valerem mais nada, mas não abrem mão de suas propriedades, ainda que milhares vivam miseravelmente em seus abrigos, dando um sinal mais apocalíptico ao velho centro.

A política neofascista de higienização da região da Luz, vulgarmente conhecida como Cracolândia, fez espalhar por todo o centro os desvalidos expulsos dali, criando vários novos campos de miséria absoluta, Não houve nenhuma política de inclusão deles, apenas ataques, nem acolhimento, não são vistos como humanos e tratados como indigentes, vivendo por caridade de algumas entidades que lhes dão comida, água, roupas.

São seis anos de pressão política e militar sobre o centro, um retumbante fracasso, três prefeitos (Dória, o breve, Bruno Covas e Ricardo Nunes), agora o terceiro governo estadual (Dória, Rodrigo Garcia e o carioca Tarcísio), sempre pela mesma ótica de ataques, agora a novidade, o vice-governador, Felício Ramuth, o ex-prefeito de São José dos Campos (onde atacava a ocupação do Banhado), foi nomeado “gestor da cracolândia”, as medidas seguem o modelo anterior.

A caminhada pelo centro é uma forma de ver, ouvir, sentir o que há de humano, daqueles que são excluídos, invisíveis, pensar o que são os direitos humanos para eles, fora dos gabinetes, dos salões e discursos óbvios, quando a realidade ali não tem nada de obviedades, é barbárie, é catástrofe humana.

O poder público é o responsável maior pelo estado de coisas do Centro de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Fortaleza, ou de outras cidades, entretanto, de alguma forma, nós precisamos cobrar e colaborar para organizar, dar visibilidade, ao mesmo tempo conhecer, conversar, ouvir as pessoas, sem medo delas, sem romantizar.

O que pensamos para o Centro de São Paulo?

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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