Now my charms are all o’erthrown,
And what strength I have’s mine own,
Which is most faint. Now ’tis true
I must be here confined by you
(Prospero´s Book – W. Shakespeare)
Perdido, mais uma vez, afinal andamos e somos mais perdidos do que “encontrados”, entre músicas, filmes, leituras, mensagens que pipocam no celular e no notebook, num caos particular e coletivo, geral e irrestrito, onde tudo não faz sentindo, é uma soma de loucura e distopia, quase nenhuma utopia e luz, o tempo fecha, ou não.
Oh not I will survive
Yeah
As long as I know how to love
I know I’ll be alive
Canta alto o Cake, que se sobrepõe ao Netflix, naquele instante em que leio um último trecho do Prospero´s books, enquanto penso em Kenzaburo. Será mesmo que sobreviveremos? Senão vejamos, leiam ou não, mas insisto em escrever, para mim e para ninguém, a minha rebeldia tola.
Há exatamente um mês, num domingo, vencemos a mais disputada eleição da história brasileira, sem razão (ou alguma razão que nos escape), uma espécie de seita milenarista se agarra em pneus, muros, abraçados em bandeiras apelam aos extraterrestres e aos milicos que intervenham por uma “democracia” sem aceitação dos votos, fechando estradas, ruas, como zumbis ultramodernos.
Ao mesmo tempo, uma clima pessimista, incerto ameaça os que venceram por não compreender o que fazer diante da distopia, da cegueira e da ameaça de que nada siga, uma realidade tão ficcional e surpreendente, que gera medo, tensão sobre o porvir
Ce soir
Le vent qui frappe à ma porte
Me parle des amours mortes
Devant le feu qui s’éteint
E no tocador vem Charles Trenet, na versão de Pomplamoose, avisa do amores mortos, ou seria de nosso cenário, que nem o apocalipse tolera, é excesso de loucura e cores ruins, selvagens despidos de vida e sonhos, tensionam o mundo por uma terra plana, burra e de sombras.
Vem o doce piano do anjo loiro, Rick Wakeman e transforma a pesada Stairway to Heaven, numa viagem onírica, soando suave as teclas, em que a realidade toda virou apenas névoa.
Unless I be relieved by prayer,
Which pierces so that it assaults
Mercy itself, and frees all faults.
As you from crimes would pardoned be,
Let your indulgence set me free