A notícia do dia, 23.05, é “renúncia” do ex-governador João Doria Jr de sua candidatura à presidente pelo PSDB. Aconselharia cuidado, pois, há dois meses, Dória ameaçou não sair do governo de São Paulo com a desculpa de que o seu partido estava vacilante se manteria candidatura própria, menos de 24 depois, voltou atrás e saiu do governo e manteve a pré-candidatura.
Esse movimento errático atual do PSDB, faz parte de um longo caminho de perda de relevância política e ideológica dos tucanos, nacionalmente, ainda que mantenha força no sul e sudeste, mas bem distante do que foi o partido, que surgiu com a ruptura do PMDB fisiológico que tinha aderido ao governo Sarney e algumas figuras como Mário Covas, Montoro, Serra e FHC, lideraram a legenda.
O PSDB foi rapidamente se ajustando ideologicamente, de centro-esquerda (social democrata) para o centro-direita, pois o PT, fez o caminho da esquerda para ocupar o espaço de centro-esquerda, com mais força política e definição ideológica, restando ao PSDB, cumprir o papel do partido preferencial da burguesia e da mídia.
Os governos de Fernando Henrique Cardoso se alinharam ideologicamente com o neoliberalismo, que estavam em ascensão no mundo, liderado por Clinton e Tony Blair, FHC, Menen e Fox, na América Latina. Esse afastamento de posições sociais democratas foi um caminho sem volta, o que permitiu ao PT enfrentar e vencer por 4 vezes as eleições do século XXI, tornando o PSDB um partido regional, mas encarnava o antipetismo.
Nessa última década, depois da derrota de Aécio e seu apelo ao golpe, ao invés de representar um crescimento do PSDB, se deu o oposto, manteve o governo de São Paulo, mas o partido passa a ser controlado por forças ainda mais à direita.
O problema é que a chamada Nova Direita, mais raivosa, encontrou em Bolsonaro um líder mais radical de combate ao PT, o que foi minando a força do PSDB nesse eleitorado de Direita.
Em 2018, o PSDB teve 5% dos votos nas eleições presidenciais, venceu em São Paulo (Doria Jr) e no Rio Grande do Sul (Eduardo Leite), com dois governadores ultraliberais, na carona do antipetismo, em aliança com Bolsonaro, ambos traíra o candidato do PSDB, Dória ainda no primeiro turno e lançou o famoso “Bolso-Doria”, instalando uma ruptura interna que só agora se revela completamente.
No ano passado, em meio a pandemia, os dois governadores (SP e RS), começaram a disputar o espólio do PSDB. Doria venceu as prévias, super esvaziadas, mas que lhe deu o direito de ser pré-candidato, no ensaio de terceira via. Mesmo assim, Eduardo Leite renunciou ao cargo e começou a trabalhar para inviabilizar a candidatura de Doria Jr.
Com a Terceira via agonizando, Dória não conseguiu os prometidos 10% nas pesquisas até maio, deu mais força para uma nova “trairagem” interna, o que precipitou nessa renúncia de Dória, o que leva a mais crise no PSDB, que pode perder o governo de São Paulo depois de 28 anos e 7 mandatos, o que vai enfraquecer o partido que mais teve apoio de mídia, desde os militares.
Parte de antigos líderes do PSDB “histórico” rompeu, o maior exemplo é o ex-governador Geraldo Alckmin que foi ao PSB, uma espécie de sublegenda tucana em São Paulo, e se tornará o vice de Lula, do PT, a quem combateu, inclusive, em duas eleições presidenciais.
Dória Jr conheceu hoje (ou não) o gosto de uma traição, ficará num limbo político, não podendo apoiar diretamente Bolsonaro, pois esse, espertamente, se afastou do neo-aliado, para não abrir espaço na sucessão. Apoiar Lula será visto como traição ao seu núcleo ideológico, a terceira via, lhe vetou, ou seja, ficou sem nenhum espaço nacional, talvez lhe reste apoiar e vencer com Rodrigo Garcia, o governo de São Paulo e esperar por 2026.
Por enquanto, está no Limbo.
Excelente analise! O partido ainda cometeu um deslize grande, isto é, se aliaram ao MDB dando força e ascensão aos não tucanos raiz.