Na verdade, a terra está cheia de males, cheio o mar;
doenças para os humanos, algumas de dia, outras à noite,
por conta própria vêm e vão sem cessar, males aos mortais levando
(Os trabalhos e os Dias – Hesíodo)
Tenho mais tempo de passado do que de futuro, dentro de condições normais e de expectativa de vida, não me curvo às estatísticas, mas não posso subestimar os fatos científicos, provados e com uma lógica clara, inescapável. Então vivamos bem e melhor, na medida do possível e das forças, não é uma resignação, apenas uma constatação.
Olhar para frente, ainda que reduzido seja o tempo, talvez seja melhor do que ficar vendo a vida pelo retrovisor, pelas coisas boas do passado, muitas vezes foram menores do que as frustrações próprias do mundo em que tentamos transformar, com todas as nossas melhores energias e sonhos, mas que teimou em se mostrar o mesmo, o que é diferente de ser o mesmo.
Maldito é o ser humano porque tem a dura consciência de sua finitude, um dia, inesperado ou não, ele (ela) vai se apagar, virar apenas pó, pois dele (do nada) veio.
Dessarte, reúno as minhas parcas forças e conquistas, intelectuais e materiais, para permanecer firme e com dignidade, para enfrentar o porvir. Sendo consciente do meu lugar, no tempo e no espaço, na sociedade e na vida pessoal, dentro daquilo que sonhei um dia, e até onde as asas de Dédalo me permitiram ir, seguindo o conselho do artífice: não tão alto para que o sol a queime, nem tão baixo para não bater em obstáculos; O que nem Ícaro, nem nós conseguimos, claro, a tentação do alto, nos faz ultrapassar o nosso metron (a medida fiada para nós por Aía e seus fios).
Nesse sentido, como ainda sobrevivi, vou procurar fazer apenas o que for necessário, na proporção do que posso executar bem e com prazer, exceto trabalho, que não recuso, é sina/carma viver do trabalho até o fim, destino de quem veio de onde vim, e assim sigamos.
E lá vamos nós, ou não.