Arnobio Rocha Filmes&Músicas A Filha Perdida

1943: A Filha Perdida


O excelente filme, A Filha Perdida, traz como centro o debate sobre a condição das mulheres na sociedade machista.

É um filme feminino e feminista, feito por mulheres e para mulheres, nada que escreva mudará essa perspectiva, nem é essa a ideia, apenas dizer o que senti, como homem, diante de uma obra tão densa e complexa, de um universo em que nós homens pouco compreendemos e na maioria das vezes contribuímos efetivamente para o caos, raramente para luz.

A Filha Perdida (The Lost Daughter), (NETFLIX) adaptação do livro de Elena Ferrante, que fez o roteiro com Maggie Gyllenhaal (Diretora), o elenco é liderado pelas excelentes Olivia Colman, Jessie Buckley, que fazem o papel de Leda, a intelectual e professora universitária, que passa férias na Grécia, entretanto seu passado e suas memórias voltam à tona.

A personagem se chamar Leda não deve ser mera coincidência a referência ao mito grego. Leda, a esposa do Rei espartano, Tíndaro, que um dia é vista por Zeus que a deseja intensamente. Zeus transformado em cisne seduz Leda, desse duplo enlace (Leda-Tíndaro, Leda-Zeus), Leda choca dois ovos, e deles nasceram Clitemnestra, Helena, Castor e Pólux. Sendo Helena e Pólux filhos de Zeus.

A questão central é a da condição feminina na sociedade machista, em que o lugar da mulher é o lar, cuidar dos filhos, mesmo em ambiente com grau intelectual e educacional mais elevados, ainda assim, há a reprodução do mesmo comportamento e a mulher é reduzida à condição inferior, ainda que seja mais brilhante do que o marido.

A grande sacada do questionamento da visão da maternidade como natural e graça, o instinto maternal, e outras convenções que nós homens vemos como o destino da mulher e favorece a nossa vantagem social, empregos, oportunidades decorrentes de não termos que “cuidar” das crias.

Romper com essas convenções e imposições sociais da sociedade machista, assim como no mito, de ter dois homens, não é uma questão fácil de viver, e de retratar. A Densidade do filme está justamente nessa abordagem de trazer o debate de temas que são vistos como natural, biológico, quase tabu, sem nenhum apelo, nem uma concessão.

Um grande filme, atuação surpreendente de Dakota Johnson e ótimo papel de Ed Harris.

Imperdível.

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