“não corras rasteiro à terra, nem levantes voo até o céu. Caso contrário, incendiarás o planeta ou abrasarás o céu. Voa no meio e correrás seguro!” (As Metamorfoses – Ovídio)
Na tragédia das tragédias, o trono de Sangue, Lady Macbeth desesperadamente tenta lavar as mãos, pois acha que elas estão sujas de sangue. Ao imaginar ver sangue em suas mãos, faz aumentar sua loucura, o sentimento de culpa, piorando ainda mais, ao não conseguir limpar sua “alma”, muito menos as mãos, dos crimes bárbaros cometidos
Macbeth, aquele tomou o trono pelo sangue, passa a matar todos os possíveis candidatos a lhe tomar o cetro, ao fim, acaba ficando sozinho, sem amigos, aliados. E em sua solidão do trono, conquistado pelas ações vis, passa a não mais conseguir dormir, atormentado pelo temor, a noite e o silêncio, são sua prisão, em que repete para que longa é a noite que nunca acaba.
Por tantas vezes, qualquer um de nós, entra nessas insones noites, cujas sombras nos assustam, como se ela encerrasse em si mesma a nossa existência, numa escuridão sem fim, sem uma luz que possa nos iluminar, apontar saídas, e ter esperança de superar o enorme atoleiro, que nos metemos, alguns sucumbem, por não esperar o Sol.
Os cavalos de Hélio apontam no oriente, na sua cavalgadura de luz e cores, cortam o céu de uma ponta à outra, banhando a terra de dourado dia, portanto, não há noite que não acabe, com a chegado do luminoso amanhecer, mesmo naquelas plagas da terra, cuja luz é limitada, o sol sempre há de brilhar, trazendo energia, vida e brilho.
Mesmo o impetuoso Faetonte, que conduziu os cavalos de seu pai Hélio, por uma vez experimenta a glória do pleno esplendor da luz. Ao fim da sua trágica viagem, o que sobrou dele é enterrado pela náiades da Hespéria, com uma dedicatória:
“Hic situs est Phaethon, currus auriga paterni
Quem si non tenuit, magnis tamen excidit ausis”
(Aqui repousa Faetonte, o condutor audaz do carro paterno,
ao qual se não pôde guiar, ao menos pereceu em gesta gloriosa)
O jogo de sombra e luz, derrotas e vitórias, fazem parte da dialética da vida, a síntese dos opostos encontra-se em cada um de nós, basta viver plenamente cada parte dessas idas e vindas.
É a história humana, tinta carmim, a qual nos tem tragicamente ungido, como um lúmen, o farol postiço da [des]humanidade.