1793: A Prisão do Cabo-Deputado e seus Desdobramentos na Conjuntura.

A cultura autoritária do deputado, respondida pelo também autoritário ministro.

O bolsonarismo conseguiu juntar e eleger um conjunto de nulidades, começando pelo próprio Bolsonaro, descendo para Witzel e Dória (esse com um pouco mais de cacife), e mais alguns governadores, senadores e deputados federais e estaduais, foi uma farra imensa em 2018, e a consequência é uma ressaca moral sem precedentes, e a pergunta institucional e política:

Como conviver com suas selvagerias?

O caso do tal deputado Daniel Silveira se insere nesse contexto. Ele surfou uma onda favorável e a tendência natural é sumir e ninguém lembrar seu nome, de tão insignificante que é. Claro que ele se prestou ao que de pior se tem no país, e é fruto de uma época calhorda, que precisa de agentes como o deputado para fazer figuração nesse cenário caótico e distópico.

Os inacreditáveis 240 mil votos dão a dimensão da tragédia.

O maior feito do Cabo Daniel foi aparecer destruindo uma placa de rua em homenagem à ex-vereadora Marielle Franco, morta pelo milicianos. Quebra placa virou sua marca, inclusive postada ao lado do então candidato ao governo do Rio de Janeiro, Wilson Wiztel, eleito como combatente da Corrupção, rapidamente perdeu seu mandato, por Corrupção, nenhuma surpresa.

O Cabo-deputado tem como prática política de fazer performance para Redes Sociais. E está pouco preocupado com decoro, com a posição que ocupa, ou de que tenha alguma liturgia mínima de mandato público que lhe foi conferido. O que importa é aparecer e constranger. O que, no seu cálculo, lhe dá espaço midiático e futuros votos, além de alimentar suas bases radicalizadas e sem nenhuma civilidade política, acham que são antipolíticos, sendo políticos.

O deputado já invadiu o Colégio Pedro II, uma escola pública tradicional do Rio de Janeiro no que chamou de “Cruzada pela Educação”, que combateria ao “doutrinação ideológica” dos estudantes, seja lá o que isso pode significar.

De sua lavra, de atitudes insanas, foi torcer para que manifestantes contra Bolsonaro fossem mortos pela polícia, gravando vídeo e provocando os manifestantes. A truculência combinada com a falta de empatia humana são as características marcantes de sua atuação. Agressão aos jornalistas que lhes fazem perguntas e/ou críticas. O cabo-deputado foi expulso de um voo por se recusar a usar máscara, é um provocador contumaz.

O anticomunismo é outra parte da farsa cultivada. Protocolou projeto para instituir  instituir o Dia Nacional em Memória das Vítimas do Comunismo no Brasil, e fazer campanha contra a ameaça “comunista no Brasil”. Seria folclórico, mas é trágico mesmo.

Para ampliar sua “Cruzada patriótica”, virou sua baterias contra o Supremo Tribunal Federal, aproveitando-se da frase do Número 02, de que bastavam um cabo e soldado para fechar o STF, ele, sendo cabo, estava “a disposição” (com erro mesmo).

As suas falas atacando os ministros foram crescendo desde quando o Ministro Alexandre Moraes assumiu a investigação da fakenews e impôs um série de restrições ao bolsonaristas mais rudes.

Ontem, 16.02.2021, seus ataques foram mais virulentos aos ministros do STF, combinando homofobia, insinuação de que recebem propina para concessão de Habeas Corpus, entre outras. Pedi a destituição de TODOS os ministros e faz acusações graves contra eles. Nem os neoaliados do bolsonarismo escaparam.

A reação do ministro Alexandre de Moraes foi imediata (e errada, sob nossa ótica), expediu mandado de prisão contra o deputado, que tem imunidade, precisaria de autorização da Câmara, entre outras questões. Invadi um outro poder e, de certa forma, “vitimiza” a criatura, que imediatamente passou a “carnavalizar” a decisão, agitando sua horda selvagem em ataques ao STF e à Democracia.

A situação é complexa, a provocação do deputado é calculada, visa constranger os ministros, visa atacar a democracia e a república, seus poderes e exorbita no seu direito e liberdade/imunidade parlamentar. Trata-se de um provocador que tem apoio do presidente e seus filhos, o que torna incerta qualquer tentativa de punição via parlamento de suas ações torpes.

Há uma guerra política e ideológica em curso, as ações do governo Bolsonaro precisam de agitadores como o Cabo-Deputado, alguém que não tem nenhum apreço à Democracia e à Política, que contraditoriamente, como todos eles, agem dentro da política, visando destruí-la, alimentam e se dizem abertamente a favor de ditadura.

Como agir contra eles?

Essa é a pergunta que devemos nos fazer, não adianta a retórica de como eles cresceram, de onde surgiram, mas como combatê-los, dentro da legalidade institucional, mesmo sabendo que eles se lixam para às instituições.

Neste caso, a defesa do STF se impõe como central, defender os ministros, mesmo aqueles que nem defesa merecem por suas atuações coniventes com esse tipo de gente, a quem ajudaram a florescer e crescer. Não tem jeito é defender o todo, sem concordar com a prisão do deputado como foi feita, parece um grave erro, que não podemos compactuar, inclusive, no sentido de reconstrução da ordem democrática e jurídica.

No parlamento, é abrir processo ético por quebra de decoro, isolar politicamente esse tipo de parlamentar, denunciar em entrevistas, em atos e comunicação para sociedade, a quem eles servem, qual o propósito deles, em nome de quem estão a agir, quais seus objetivos, sendo o principal, inviabilizar 2022, criando um clima de mais golpes ou endurecimento do atual.

É como penso.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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