Há um hiato, uma fenda, entre o espaço público e o espaço privado que um (a) cidadão (ã) ocupa, que é a questão humana.
É essa réstia de sol que ilumina e que nos relembra o que há de humano em nós e que pode ir além das questões políticas, das disputas e nos faz ver o que poderia (ou deveria) ser tolerado nos limites da vida, segundo essa compreensão humanística.
Ontem fiz um post em redes sociais e republiquei aqui Bruno Covas e o Moralismo de Ocasião. e gerou muitas discussões, polêmicas se deveria ou não o prefeito ter ido ao jogo, a contradição de decretar isolamento e ir se aglomerar, entre outras.
São debates calorosos. pois se trata de uma figura pública, que dirige a maior cidade do país, adiante-se. que é uma gestão extremamente ruim, sem compromisso com os Direitos Humanos, que faz ataques aos direitos dos trabalhadores, o contaste descaso com a população mais vulnerável, insensibilidade com os idosos, como o corte do passe livre para a faixa de 60 aos 64, por exemplo.
O texto é uma reflexão por outro ângulo da questão humana, dos nossos limites, e da nossa generosidade com os que agem e pensam diferente de nós, mas que merecem o olhar solidário quando lutam por suas vidas, por doenças graves e que vivem no limiar do seu tempo, suas incertezas e dores, ao mesmo tempo, o direito humano, aos seus pequenos prazeres e necessidades humanas.
Reflito sobre valores que podem nem compartilhados pelo personagem, por seus assessores, por sua corrente política, e nem por isso deixei de defendê-los, com o mesmo apego que faço ao lutar pelas pessoas vítimas das políticas implementadas pela prefeitura de São Paulo.
A incapacidade de enxergar o humano, suas fragilidades, mesmo naqueles que mais combatemos, nos destrói como humanos, simples assim. Jamais me intimidaria pela censura, senão de qualquer tipo. Não defendo o prefeito, o homem público, nem seus valores privados, mas o seu direito à vida, entendo a dor que carrega e sua luta pela sobrevivência.
A literatura é repleta de exemplos de como se dão esses hiatos de sentimentos humanos, para além dos embates e lutas, inimigos e adversários.
Na majestosa Ilíada, Príamo chora aos pés de Aquiles, o poderoso Rei de Troia se humilha perante o algoz do seu filho, mas o faz pelo direito de Heitor ter seu enterro com as honras dos heróis. No Blade Runner, Roy, caça o caçador de androides, Deckard, que acabara de matar sua namorada, porém, naquele último instante, ele salva o odioso inimigo, uma luz na escuridão.
Reafirmo tudo o que disse antes, sem medo de ser feliz.