“À natureza concedei apenas o que ela própria exige, e a vida humana tão barata será como a das feras” (Rei Lear – W. Shakespeare)
As tragédias são partes fundamentais para compreensão da psique humana, elas vão mais fundo e expõem todas as facetas que carregamos e tememos que outros conheçam, o nosso dark side. As tragédias não se limitam a ter um ato, ou algumas cenas, elas são relatos e construções complexas, num crescente, cena a cena, ato a ato, para ter um corte final, sem antes deixar todas suas marcas.
Ora, a leitura de peças, livros, ver encenações em teatro e filmes, não conseguimos desligar porque as tragédias falam tudo sobre nós, nos empurra para o canto do ringue e ali vai batendo e quebrando resistências, para um nocaute, quando da sua catarse final.
O final, o ápice, é chocante, cruel, duro, ver Hamlet morto pela espada de Laertes, Medeia sem os filhos, a loucura das mãos ensanguentadas de Lady Macbeth, a solidão de Lear, o destino de Romeu, Otelo. Antígone, virgem, presa no túmulo fechado, ainda viva. Os olhos cegos de Édipo. O chorar de Príamo agarrado aos joelhos de Aquiles, pelo corpo de Heitor. A condenação de Paolo e Francesca ao inferno.
Cada uma delas, muitas vezes, nos parecem distantes, quando na verdade elas traduzem, a nossa vida, e viver é um Duplo: Um ato de coragem e uma certeza de que pereceremos, cedo ou tarde. A finitude é trágica, ainda mais quando na pouca idade, como Hêmon, Julieta, Hipólito, Desdêmona, Ofélia, Perséfone, Faetonte, Pátrotclo. Ou mesmo minha Letícia.
Sobreviver a uma tragédia é nunca mais viver, ou nem saber o por quê de viver. Talvez purgar algo ruim, expiação de desacertos e desatinos.
É seguir e não seguir.