Estude o livro do rosto de Páris,
Escrito pela pena da beleza.
Repare na harmonia das feições,
Pois cada uma embeleza a outra;
E se algo fica obscuro no volume,
As notas no olhar aclaram tudo.
Esse livro do amor, com as folhas soltas,
Pra perfeição precisa só de capa.
(Romeu e Julieata – W. Shakespeare)
Entrei no escritório de casa e fiquei passeando pelos meus livros na estante, ainda que uma organização esteja parte bem organizada, a outra, não, um completo caos, o que é interessante, reflete bem a minha vida e as minhas próprias leituras.
É uma viagem de tantas lembranças e pelas muitas ideias que eles me propiciaram em todos os momentos da vida, meus companheiros de combate, ensinamentos e principalmente de certeza do amor eterno às letras, dos escritores de tantas gerações, como um livro único da aventura humana, que vai passando por séculos e milênios, e que dão sentido à existência.
Visitar os livros, abri alguns, ler trechos, é voltar a experimentar a emoção de que cada um deles provocou, como se fosse a primeira vez, o que na verdade é, pois a releitura é uma oportunidade de conhecer mais detalhes e informações que se perde pelo tempo ou por não ter absorvido o conteúdo nas vezes anteriores.
Reler um livro é redescobrir as obras com mais intensidade, os saborosos detalhes ou o prazer de encontrar aquelas letras que encantam, é também uma certeza de que tudo está ali, não será mudado, uma segurança, no tempo hostil de tantas incertezas.
É saber que Romeu declamou os versos de amor à janela da infante Julieta, brigou com sua família e morreu por amar. Nada mudará o destino de Macbeth, que a floresta “caminhará” em sua direção e aquele que não nasceu pelas entranhas, será seu algoz. Hamlet nos dirá que ser ou não ser é a maior reflexão, cheia de sutilezas, que alguém já pensou.
Torcemos pelo orgulhoso Aquiles, o Pelida, possa voltar as armas, choramos juntos a morte de Patroclo, assim como nos emociona o pedido de Príamo pelo corpo do grande herói Heitor, que não pode ficar sem suas exéquias, pelo que representava para Tróia.
São essas sutilezas, essa “amizade” e intimidade com esses nomes que só a literatura proporciona e só ela nos salvará de todo e qualquer mal.