Will the misty master break me?
Will the key unlock my mind?
Will the following footsteps catch me?
Am I really dying?
(Julia Dream – Pink Floyd)
O calendário ainda não virou o ano, a incrível sensação de que 2019 não saiu da folhinha. O tal ano de 2020 continua lá, não sei se por mais meses, com risco de que até por mais um ano. A vida congelou e não dá sinais de que irá voltar ao que era em 2019.
Entrementes, de alguma forma, estamos construindo uma existência, uma subjetividade que vai se adaptando à realidade improvável e impossível que se apresentou nessa pandemia de tantas mortes, dores e incertezas.
A vida, os relacionamentos, a sobrevivência e principalmente manter a sanidade é a questão mais urgente. A literatura, as artes, as mais variadas, são as únicas certezas de que a humanidade ainda “vive”, por mais complexo e difícil que esteja sendo.
Ler, ver filmes, ouvir músicas, tocar instrumentos, escrever, crias, pensar o impensável. Encontrar esses espaços (físico ou virtuais) em que se retorne a utopia, os sonhos de uma sociedade mais jutas. Nesse sentindo descobrir velhos livros, ou abrir aqueles que você jura para si mesmo que um dia leria, mas fica postergando, enrolando e não chega ao capítulo dois.
É uma época estranha que a música antiga, volta a fazer completo sentido, ainda que não corresponda mais ao seu momento, talvez seja apenas a boa lembrança de uma fase da vida, que é importante, inclusive, para nossa segurança, uma certeza de que se viveu, uma esperança de que ainda poderá haver uma vida no futuro, talvez, até melhor, mais doce.
É o que nos resta, sonhar.
And deep beneath the ground the early morning sounds
And I go down
Sleepy time when I lie with my love by my side
(A Pillow of winds – Pink Floyd)