“agora, ó deuses, tendes
Zelos desse homem, que salvei lutando
Sobre a quilha de nau despedaçada”
(Odisseia – Homero)
Os gregos fizeram uma aliança entre suas cidades-estados para invadir Troia, o maio desafio era unir e acomodar tantos líderes-heróis e suas idiossincrasias, suas relações privilegiadas com deuses, o que levou a uma longa guerra de 10 anos, até a invasão e vitória, depois o duro retorno. O ardiloso Odisseus (Ulisses), por exemplo, demorou-se 10 anos para seu retorno a Ítaca.
Esse duplo movimento mítico ir do ocidente ao oriente e sua volta pode nos ensinar exatamente isso, respeitar o tempo dos movimentos, o tempo da política, da construção, perda e reconstrução.
Desde 2013 houve, é fato, uma hecatombe política no Brasil, do mesmo tipo que aconteceu em 2002, só que no sentido inverso, o primeiro da centro-direita para centro-esquerda, o segundo da centro-esquerda para extrema-direita. Nesse sentido, houve um crescente de 2014, ainda com primazia das forças de centro-esquerda, uma queda em imensa em 2016, com impeachment e eleições e o auge desse segundo movimento, de negação da Política e Democracia, foram as eleições de 2018.
Localizar no tempo e no espaço, é a chave para entender os resultados de 2020. Todos a onda negação da Democracia e criminalização da Política, especialmente do PT, trouxe novos atores políticos, que repudiavam a política, fazendo política, encontrou em Bolsonaro o símbolo, o escárnio e o aparente repúdio de toda prática de alianças e de costuras eleitorais.
A vida cuidou de responder que não há como negar a política, pode se tentar restringir, criminalizar, usar de métodos de exceção como regra, mas não é algo definitivo, em pouco mais de um ano, o próprio Bolsonaro procurou e entregou seu governo, sua sobrevivência, ao Centrão (a Direita que não ousa dizer o nome), o fiador de uma certa estabilidade num país continental e desigual em todos os aspectos.
As eleições de 2020, a despeito da pandemia, já seriam marcadas pela grave crise econômica, que assola o país desde que Dilma foi inviabilizada de governar após a dura reeleição de 2014. O Golpe de 2016 jogou o Brasil numa agenda destruidora de direitos sociais, previdenciários e trabalhistas, com Bolsonaro essa pauta se aprofundou atacando as condições de vida e os direitos humanos elementares, o meio ambiente e credibilidade internacional.
A incompetência de Bolsonaro-Guedes seria o centro do debate em 2020, infelizmente a pandemia, de certa forma, não permitiu esse embate diretamente, entretanto, a enorme derrota dos aliados de Bolsonaro, na prática voltou ao seu real tamanho, porém com a caneta na mão e poder de estrago.
Ao mesmo tempo, foi uma enorme vitória do Centro, no Brasil, a Direita tem Vergonha de se assumir como tal, então criam umas expressões cômicas, se não fosse trágica, como o tal “Centro Expandido”.
De fundo é importante dizer que os ventos da Extrema-Direita contra a Democracia e a Política foram vencidos, para enterrar é preciso derrotar Bolsonaro em 2022, mas essa é uma outra construção.
A Esquerda do PSOL foi vitoriosa em São Paulo e teve importante crescimento em grande cidades e a centro-esquerda, liderada pelo PT, está em recomposição, não foi protagonista nos grandes centros, como São Paulo, mesmo elegendo a maior bancada de vereadores, mas tomou corpo nacional e chegou aos rincões, com prefeitos e votações de presença fundamental para eleições presidenciais.
Agora é unir-se, Esquerda e Centro-Esquerda, no segundo turno em todos os locais em disputa, São Paulo, Porto Alegre, Recife, Belém, Vitória, o que apontará os caminhos de 2022. Fazer vitoriosos, Boulos e Manu, nomes nacionais, para ampliar capacidade de acordos e mobilizações
O PT “preservou” o Haddad da disputa, o que pode sugerir sua candidatura ou composição da chapa. A maneira mais inteligente será chamar prévias de um bloco de Esquerda e progressista. Coisa para começar em maio de 2021, prévias em março de 2022. Com programa e candidatos. Isso mobiliza, cria referência, saímos da disputa entre partidos e demonstra para sociedade a disposição de RECONSTRUÇÃO do Brasil , Estado e Nação.
Esse Bloco de Esquerda vai do PT/PSOL/PC do B ao PDT/PSB, e tem que se acertar primeiro para que em 2022, pois vai ter um novo embate de polos bem definidos, Esquerda tem que ter essa primeira viabilidade. A grande chave serão os acordos regionais, que sairia dessa configuração acima. O que permite atrair setores de centro, partidos e personalidades.
Bolsonaro vai mobilizar o campo da Direita mais radical se aproximando mais do “Centrão”, o que não daria espaço para Moro/Huck/Mourão, como também, esse movimentos definidos, de lado a lado, jogará uma pressão sobre Ciro para uma composição à esquerda ou não se viabilizará.
Portanto estamos em plena Odisseia, o retorno, ninguém vai do oeste ao leste e depois retorna de uma vez, há que se navegar, sem cair no canto de sereias, como resistiu Ulisses.
À luta, sempre!
Amei, senti uma esperança!