“A morte, essa justiceira cruel, é inexorável nos seus prazos”
(Hamlet – Shakespeare)
A maior violência da vida é a morte de um filho.
O texto podia terminar na frase acima, pois tudo aqui e abaixo é mera redundância, expiação, lamúrias, algum amor e sentimento, principalmente, poesia, mesmo que machuque.
Essa laceração provocada por essa violência só é vista/sentida por quem é vítima, não é mensurável, é interna e contida, é aquela violência em que não se acha razão alguma, nada explica, nada justifica e nada faz sentido.
Cante ou reze-se todos e quaisquer dos credos invetado pelos homens, os santos, os profestas, iluminados, nada que digam, nos convence de que seja possível/admissível suportar os dias, as semanas, os meses, transformados em anos, nada mitiga a dor, nem mesmo em outra vida (que não existe), não creio que haverá uma redenção.
É uma condenação em vida, externamente riremos, comemoraremos o gol do nosso time, um grande feito de trabalho ou intelectual, enfim, todos os fatos da vida comum, pois seguimos em frente.
Entretanto, o nosso íntimo é tomado pela imagem de quem se foi, na dúvida de que se podíamos ter ido antes, ou se algo deveríamos ter feito para que não acontecesse o fim.
É um complexo sentimento, não é de dor, mas de vazio, de impotência por não haver qualquer chance de reverter o que se passou, metodicamente realinhamos todas as datas, como se uma linha do tempo imaginária pudesse demonstrar uma lógica, não há, não há nada a se fazer.
Como diz o poeta, daquele “país não descoberto, de cujos confins jamais voltou nenhum viajante”, e isso, “nos confunde a vontade”. E nos assusta.
E passamos a viver em reflexão, sem que dela, nada se conclua.