“A matéria que nos compõe
É igual à dos sonhos; e a nossa curta vida
Cercada por um sono.”
(A Tempestade – William Shakespeare)
Estive no quarto de Letícia para procurar um lençol no guarda-roupa, algo assim, aí me dei conta da extrema organização dela, coisa a coisa, o cuidado, a dedicação que tinha por tudo o que era dela.
As gavetas todas certas, uma com identificações, subdividida por coisas, as dedicadas a cada ao tipo de roupas, camisas, calças, vestidos, calcinhas, biquinis, agasalhos.
As peças dispostas por cores, tipos, cada joia, bijuteria, relógio, as divisórias de roupas de cama, toalhas. Aquilo foi me dando um orgulho tolo, ao mesmo tempo, uma tremenda angústia, por tudo que ali ainda se encontram como se ainda estivesse conosco, mas por uma razão mais complexa: a mente brilhante da Letícia.
Olhei ao lado, a estante, toda disposta, com livros, livros da Faculdade, os cadernos anotado com uma perspicácia, uma certeza de que não se perderia em nada, é assustador ver tudo aquilo, quanto desperdício que é a vida, nem inteligível, o desfecho, que perda humana.
O zelo e a perfeita lógica da arrumação do guarda-roupa, de sua estante, demostram um nível de maturidade intelectual, de uma mente com pensamento sistemático, organizado, coerente, disciplina, como se não sofresse nada, uma confiança na vida, no futuro, nada a abalava, nada.
É uma lição para mim, éramos parecidos em muitas coisas, mas ela me superou em muito, a organização e tenacidade, um modo de ser todo particular, aliava a extrema autoconfiança com uma generosidade imensa, acolhia, aconselhava e dava pancadas nos amigos e amigas, em duas frases anotadas:
- Minha missão na vida é fazer as pessoas felizes.
- Nem adianta discutir comigo, depois reconhecem que eu tenho razão.
Letícia era pura luz, energia, apenas pergunto, todos os dias: Por quê?
Prezado amigo. Sim, amigos compartilham saberes e dores, pois que somos amigos, sem nem ao menos nos conhecermos. Não acredito em acasos e sei, através da hermenêutica, que tudo está interligado. Em tese, cheguei até aqui por causa de minha atual pesquisa sobre Hermes Três-Vezes-Grande (chamo assim para criar certa intimidade, quem quiser saber mais que lute, como eu) e me deparei com a tua incrível Letícia. Que superou em muito meu interesse inicial no teu blog, já que tenho também uma dessas Admiráveis Criaturas em minha existência. A minha Marina é outra grande odisseia (quem sabe um dia terei o prazer de compartilhar essa história com vc e sua família?). Por hora, após ler grande parte de teu justo e belo Diário de Redenção e já madrugada alta, te digo de coração, nós, que “atravessamos o deserto do mundo”, parafraseando Sophia Andresen, vivemos uma das melhores e maiores experiências de vida através das nossas filhas. E, mesmo que a ordem dos fatores tenha se invertido, como foi o nosso caso, o que significa isso diante da incrível jornada que nossas filhas tiveram aqui, diante de nossos olhos? Te digo ainda que eu, já que estamos falando de coisas bem pessoais, também não trocaria minha existência pós-Marina, mesmo marcada pela dor mais dilacerante de todas, por nenhuma outra que não tivesse a oportunidade de ser marcada pela companhia dela, a quem classifico como minha quintessência. Luz, Paz e Gratidão por haver encontrado este espaço e conhecido a tua linda Letícia. ✨💜♾️
Dani Rachid,
Muito tocante suas palavras, somos passageiros de uma desventura, sem nenhuma arrependimento de ter tido a chance de viver todos esses dias, semanas, meses e anos, com nossas filhas, o melhor de nós.
Arnobio
Fato. Justamente por isso e por elas, seguimos em frente. O amor é assim mesmo, Arnóbio, revolucionário. 💜♾️