“Você não sente, não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança, em breve, vai acontecer
E o que algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo”
(Velha Roupa Colorida – Belchior)
A última grande Crise do Capitalismo, 2005-2008 (que denominamos de Crise 2.0), trouxe, como consequência, um novo arranjo político e o maior ajuste do Estado desde a segunda guerra mundial. A hecatombe do mercado de derivativos, das hipotecas sem lastro, fez quebrar uma parte da banca dos EUA e o Estado teve que gastar cerca de 5 trilhões de dólares para salvar bancos, corretoras e empresas.
A retomado do crescimento se deu com esse profundo ajuste, a transfusão de riquezas, dos mais pobres para os maios ricos, como poucas vezes vista na história. O motor dessa engrenagem foi justamente aquele mais odiado personagem no imaginário liberal, o Estado.
Claro que para fazer essa gigantesca engenharia, houve um aprofundamento do neoliberalismo, com a maior racionalização do controle do Estado.
A nova expansão aumentou super concentração de riqueza que tomou ares pornográficos, isso se deve ao crescimento das dívidas públicas, ainda que os juros sejam menores, o Estado financia as grandes empresas e garante as enormes fortunas cresçam de forma avassaladora, ainda que o discurso seja de que o Estado deve ser diminuído e imposição violenta de reformas trabalhistas e previdenciárias, como a única forma de crescimento sustentado.
Entretanto, quando se olha de perto foram estas políticas de gastos e déficits públicos recordes nos últimos setenta anos que levaram, até este primeiro semestre/2019, a uma relação dívida pública/PIB de mais de 100% nos EUA, de mais de 250% no Japão, Europa (85%) Itália (132%), França (99%), Espanha (97%), Alemanha (61%).
A mudança só foi possível com o retrocesso político mundial, a onda das primaveras digitais, do neoconservadorismo, do todos contra a política e contra a corrupção, o que levou ao poder figuras absolutamente inacreditáveis, com programas neofascistas, que impuseram programas contra os direitos fundamentais e pela ampla liberdade econômica, tornado o miserável, em “empreendedor”, o que fez cair enormemente a parcela da renda da maioria da população, aumentando a riqueza das grandes corporações.
Aquela racionalidade dos primeiros anos pós-crise, de especulação mais contida, durou de três a quatro anos, desde 2015 começaram a se agitar novos derivativos e nova onda especulativa, com bolsas subindo de forma absolutamente desproporcional ao crescimento real das economias, produzindo uma nova bolha.
Esse novo ciclo começou a dar sinais de engasgos, desde metade de 2019, as taxas de crescimentos começam a cair, o ambiente otimista dá lugar aos relatórios mais modestos, como bem observa José Martins no imperdível artigo Nas Coronárias do Capital, ele desmistifica esse pavor do Coronavírus, demonstrando que a preocupação real, é com uma nova crise que está prestes a eclodir.
Como bem diz, que “As principais bolsas de valores de todo o mundo estão entrando no território da correção, quer dizer, fortíssima desvalorização, à medida que aumentam os temores de uma possível pandemia, com os casos do novo coronavírus surgindo fora da China”.
E aponta, corretamente, que “O álibi de todos estes movimentos de desvalorizações do capital é a epidemia de coronavirus, o raio da vez no céu azul do virtuoso do mundo do capital. Esse ridículo protagonismo de um misterioso vírus de gripe nos rumos da economia não passa de um grande espetáculo. Mais uma produção de segunda categoria da “sociedade do espetáculo”, definida originalmente por Guy Debord e a Internacional Situacionista.
Nesses termos “A mais importante notícia vem do coração do sistema global; nos EUA, o principal índice da bolsa de Nova York, caiu quase 1.200 pontos na quinta-feira (27). O Dow Jones sofreu sua maior queda de um dia na história, para cair no território de correção. Sua média de 30 ações também segue para a pior semana desde a mais recente crise periódica de 2008, até agora a mais pesada do período pós-guerra (1945)”.
Ou seja, o que devemos nos preocupar com a uma nova grande crise, especialmente países pobres e expostos como o Brasil, que tem sua moeda sob estresse, desvalorizando 11% em 2 meses, em 2020. Apenas em dois dias a Bolsa de Valores perdeu uma Petrobrás inteira. As reservas cambiais que beiraram os 400 bilhões, irresponsavelmente tem sido gastas pagando especuladores.
Nem adianta comprar máscaras, se esconder em casa, o vírus, está no coração, nas coronárias.