Raramente vivemos uma vida, quanto mais duas, ou as dores e prazeres de uma única, a maioria de nós muitas vezes apenas sobrevive: Quer seja por todas agruras próprias da existência e de nossas contradições, quer seja pelas mazelas impostas por condições econômicas, sociais e políticas, adversas. Mesmo os que conseguem viver, nem sempre vivem plenamente a sua condição humana e seus encantos.
A delicada história do professor Emílio (Oscar Martínez), matemático, pesquisador e professor universitário, orgulhoso de suas conquistas intelectuais e dedicação à academia, acabou relegando as relações familiares para segundo plano. Ao fazer exames de rotina ele é diagnosticado como tendo Alzheimer, reluta, não aceita, desafia a avaliação, até cair na real.
A próxima vida, não é sobre a doença degenerativa, mas um retorno ao passado, a buscar viver o que não viveu, o reencontrar com a família, a distância com sua prodigiosa neta.
A diretora Maria Rispoli consegue discutir temas complexos e doloridos, vivida no meio de uma doença cruel, que avança e destrói não apenas o paciente, mas quem o cerce. O filme trata com rara felicidade a reconstrução de relações os vários níveis de relações, com gerações tão distantes.
Fiar uma história com leveza, humor e encantamento, que nos leva do riso às lágrimas, sem ser piegas, ou apelar para escatológico, ou religiosidade. Há uma referência sútil ao Pequeno Miss Sunshine, vários elementos humanos, como a garota que tem mobilidade reduzida, um casal em crise no casamento, a crítica da cultura “coaching”, a internet como padrão de comunicação e vida social.
É um daqueles filmes lindos, parece pequeno, mas se tornam grandes, emocionam e nos fazem refletir. Por uma coincidência o professor se chama Emílio, o que me remeteu diretamente ao meu querido mestre Carlos Emílio. Vale demais ver, a música é linda, lembrei dos velhos boleros que ouvia quando criança em casa.
Imperdível!!!