“Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir”
(Eu te amo – Tom Jobim – Chico Buarque)
Ali na mesa da cozinha, a saudade e a melancolia tomam conta de mim, um café “de verdade” está espalhando o seu aroma de vida, afeto e acolhimento, olho lá no fundo, pela varanda, uma pequena réstia de sol e de esperança, no céu cinza de mais um dia estranho de São Paulo, essa cidade que arrebatou meu coração de forma irresistível trinta e poucos anos atrás.
O tempo da delicadeza se foi, não apenas para minha vida, afinal não sou centro do mundo e nem alguém digno de nota. A questão é o Brasil mesmo, seu rumo ao abismo, destino inexorável, fruto da boçalidade que gracejou nos últimos anos, acordou dirigindo, justamente por aquele que melhor define o termo, Boçal, falta de cultura, ignorante, rude e tosco.
Em todos os campos, o eleito, o verdadeiro espelho de uma época triste, vai se sobressair, por sua completa ignorância, capaz de rir de si, transformar tudo em vulgaridade, um completo nonsense, a falta de noção é tanta que assusta a naturalidade como as frases e a nenhuma demonstração de inteligência viram sempre uma piada de mau gosto, um “meme”, quase um personagem de internet, baixo e vil, mas que é o mandatário do Brasil.
A infinidade de situações grotescas em oito meses parecem sem fim, a próxima parece que será pior, não preciso nomear as mais toscas e constrangedoras, que os subalternos riem por subserviência.
A penúltima (pois com ele não haverá a última) de Bolsonaro foi a agressão à esposa do Presidente da França, a senhora Brigitte Macron, a risada patética sobre a velhice ou estética da primeira-dama, como se Macron, o Presidente agisse mal por sua companhia, abre tantos ângulos de análises, um deles, um ato falho invertido, pois, a relação de idade, aqui é inversa.
Apenas um pedido de desculpas, daqueles que ainda têm algum caráter, nesse país dominado pela indiferença canalha, que é capaz de produzir algo assim, contra si mesmo.
O sol se foi e a escuridão do dia vem entristecer, porém a vida passa a ser iluminada porque ouço Chico Buarque, os versos delicados, tocam a alma e me dou conta que ainda podemos sonhar, nem que seja por breves momentos.
Texto maravilhoso! Salvou minha noite!
Layla,
Muito obrigado pela leitura.
Arnobio