“Você não sente nem vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer”
(Velha Roupa Colorida – Belchior)
Alguns eventos são indícios de mudança de ares, passagem de um estado para outro, mesmo que não se saiba ao certo, o que seja esse novo estado. Em poucos dias tivemos três desses símbolos, num espaço de tempo muito curto, o que demonstram exatamente que algo novo está acontecendo, não mais silenciosamente, começa a tomar forma e conteúdo.
O primeiro, dia 23.08, vários atos pelo SOS AMAZÔNIA, convocados pela internet com poucos dias de antecedência, encheram as ruas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Aqui, em São Paulo, cerca de 35 mil pessoas, imensa maioria de jovens, veio ao MASP, ali com cartazes feitos à mão, algumas faixas de ONGs, alguns partidos e coletivos, mas o que se viu eram jovens vindos de todos os lugares da cidade.
O clima era tenso, nervoso, ninguém estava ali chamados por organizações tradicionais, a própria polícia militar, com grande contingente, não entendia como conduzir, a Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP que faz plantões nas manifestações tentou ajudar na interlocução com os grupos, rodas que se formavam embaixo do MASP, depois na avenida Paulista, tomada, pois cresceu rapidamente o número de pessoas.
As palavras de ordem não indicavam influências mais politizadas, partidárias, mas uma revolta imensa contra o governo Bolsonaro, especialmente sobre a questão da Amazônia, houve uma compreensão comum de que a responsabilidade era do presidente que desdenhava do meio ambiente e a cada declaração sua ou de ministros, arrumava um culpado, insinuou, inclusive, que as ONGS punham fogo na Amazônia para prejudicá-lo, uma piada.
Naquela mesma noite, um segundo indício, durante o pronunciamento desastroso de Bolsonaro, pela primeira vez foi recebido com panelaço, inclusive em áreas nobres de várias cidades do Brasil, nos redutos em que ele teve votações estrondosas.
Enquanto se caminhava pelas ruas de São Paulo, nos Jardins, onde houve panelaço, rumo a sede do IBAMA, a manifestação recebia saudações entusiasmadas no trajeto, nos restaurantes chiques, nas pessoas pelas calçadas e nos prédios. Pareceram sincronizados, o ato e as panelas batendo, quase que simultaneamente.
Por fim, sinal do desgaste assombroso do desgoverno, as manifestações convocados por seus apoiadores, para domingo, dia 25.08, dia do soldado, do patriotismo de ocasião, foram fracassadas, público reduzido, envergonhado, nem a mudança de pauta, atacar o STF e a lei de abuso de autoridade, conseguiu mobilizar os mais devotados do capitão messias.
Ao contrário, parece haver uma clara ruptura na tropa verde-amarela, a convocação foi parcial, feita apenas alguns grupos que sustentaram as mobilizações anteriores, e mesmo entre eles houve divergências e tumultos provocados por criticas ao Bolsonaro.
Os sinais de rupturas estão presentes também no deslocamento de figuras midiáticas que estavam ao lado de Bolsonaro, parecem se afastar, ou para apagar fotos, limpar suas biografias.O que se percebe é que há um clima de desolamento e incerteza, decepção, sincera ou não com Bolsonaro e seu desastrado governo, o que torna insustentável o apoio entusiasmado anterior.
O País está sem governo desde 2015, por impedimento de Dilma, depois pelo fantoche Temer, mas se acentuou o sentimento de desgoverno com Bolsonaro, uma junção desastrosa de figuras medíocres como, Moro e Guedes, somados aos bizarros, Damares, Araújo, Salles, Weintraub. Isso tudo combinado com um chefe e sua família com laços próximos às milícias.
O desgoverno é administrativamente um caos, socialmente terrível, desmonte de todas as políticas sociais, abandono de Educação e Saúde. A Economia em frangalhos, desemprego, miséria, para completar, meio ambiente tratado como piada e paranoia. A frente internacional nunca o país foi tão desmoralizado por um chanceler, como agora. Nada se salva.
É preciso acompanhar o que se processa na sociedade, qual o nível de ruptura, o que significa o abandono de Bolsonaro, o que parece confirmar a tese de que a única tarefa dele, era a destruição da Previdência, feito isso, nenhum empresário, banqueiro, apostará nada mais.
A corrida dos abutres na Economia é pela privatização imediata de tudo, entregar aos amigos, antes que o governo não valha mais um real, aproveitar tudo o que for possível. A tendência é uma queda melancólica, Bolsonaro, pode virar, em breve, um cadáver insepulto, mal cheiroso, que ninguém quer por perto.
O país aguentará uma nova ruptura institucional?