Aqui jaz, não alguém ou ninguém, apenas ideia de uma vaidade intelectual que foi atropelada realidade. Aquele sonho de que era impossível pintar, desenhar, quem sabe cantar ou tocar, como nada disso conseguiu talento, tentou as letras. Porém, esqueceu ele, de que as letras exigem muito mais do que sua pouca capacidade de encantar, pois exige engenho e arte.
A questão também não é de morte, menos ainda de vida, é de uma indefinida fase em que não se sabe mais o que é uma coisa ou outra, apenas que se deve seguir em frente, pois há medo de olhar para trás, como Orfeu, que vacilou e perdeu a amada, ou a esposa de Lot, que a pouca fé a fez virar estátua. É ir em frente, direto e reto, não importa se haverá Cila e Caríbdis, vá, apenas.
A contemplação de que há um passado vivido, ou estar-se preso a ele, pode ser a armadilha fatal para que não se mude nada, a insegurança presente e o temor do porvir, aprisiona a consciência. O peso da indecisão, os poucos caminhos abertos, torna a vida uma tortura sem fim, patina-se no mesmo lugar, circula, circunda e volta-se ao mesmo ponto, sem a crescente, sem espiral de superação.
O mundo, ou seria seu umbigo, parece parado, talvez ele esteja numa circulação tão veloz, que não se percebe o quanto girou, mas a sensação de tontura, é recorrente. A paralisia é sua, nossa. apenas a estranha sucessão de fatos cada vez mais contraditórios, a consciência retroagindo, num planeta extremamente conectado, próximo, provoca a ideia de trevas, idade média, meia vida, meia boca.
A modernidade que se volta às cavernas das ideologias autoritárias, de um Deus perturbador e punitivo, que lhe inflige dores, como cuea aos seus pecados cada vez mais estrambóticos. A certeza de uma escatologia de um infernum mais próximo, presente, e que assustaria até Dante.
As novas hordas dos homens de bem com seus cilícios digitais (e analógicos), espalhando o ódio e a culpa, talvez resuma o que temos vistos nas redes e nas ruas, nesse tempo canalha.
Como enfrentar os limites desse momento mágico-trágico e despedaçado, sendo um, mais um, ou ninguém? É o epitáfio de uma época?