1414: Tempo Sombrio

A realidade é sombria, não sabemos o que está porvir…
“Tente passar pelo que estou passando 
Tente apagar este teu novo engano”
(Pérola Negra – Luiz Melodia)

Por vários fatores da minha vida pessoal, estou longe desse espaço, algumas vezes com saudades, na maioria das delas, com total indiferença. Obviamente as mudanças impostas pela realidade do país que tiveram consequência graves na vida de milhões, atingiram diretamente meu cotidiano. Um duro recomeço, a confiança que se perde, as incertezas do porvir, enfim, um conjunto de fatos alheios à minha vontade.

Essas surpresas da vida, nem sempre agradáveis, deixam um vazio e uma necessidade de se reencontrar, naturalmente deixam marcas e pouca vontade de fazer até coisas que tanto dão prazer, como escrever. Antes disso já tinha feito uma série de reflexões de que o blog teve momentos de intensidade e de alta expectativa de que fosse contribuir ao debate, depois de que era apenas uma diversão mesmo, não ultrapassaria meus limites, o que é muito bom, saber o nosso tamanho.

Fiz coisas boas, exerci uma atividade que jamais imaginava capaz, escrever quase diariamente. São mais de 1400 posts, um livro publicado aqui, pelo menos uns três outros alinhavados, graças aos artigos publicados, centenas de milhares de visitas, milhares de comentários. Muitos erros de avaliações e bons acertos, uma boa noção sobre o que me propunha a escrever, com honestidade intelectual. Também muitos atropelos da língua, falhas que deveria tentar melhorar.

A minha disponibilidade e inspiração estão cada dia menores, uma paralisia normal diante de tudo que tenho enfrentado nesses últimos meses. Como também é o reflexo da destruição do Brasil, de forma incrivelmente rápida, mesmo para mim que imaginei que haveria um retrocesso pela crise de superprodução de Kapital, mas não de forma tão veloz e cruel.

Estou me afastando das análises “polianas” de que é apenas um Estado de Exceção, em boa medida, pouco difere da formulação que “as instituições continuam funcionando”, só muda a graduação, uma visão de que em breve tudo “voltará ao normal”, como se esse imenso retrocesso fosse fácil de recuperar, não será. A criminalização da Política e a falência da Democracia é o Novo, em todos os cantos da terra.

Também não culpo ninguém, nem xingaria as pessoas comuns que lutam desgraçadamente pelo prato de comida, mas que acabaram iludidas pela imensa propaganda martelando na cabeça e acabaram ajudando de forma objetiva para que o Golpe e os Golpistas se impusessem, ainda que seja para os massacrar mais ainda e de forma cruel. Retirando seus mais basilares direitos, por que vou julgá-los?

As massas não irão se movimentar só porque nós achamos que elas devem acordar, isso não é automático, pode ser que demore anos, tudo é muito confuso e incerto, esse momento é de torpor, uma profunda ressaca, então os golpistas “passam o carro”, não haverá reação mesmo. Nem entre nós a solidariedade de outrora vai ressurgir, o tempo é de desconstrução de pessoas e da sociedade.

Esse conjunto de coisas abatem muito, temos que escolher palavras, amigos, companheiros, pois tudo mudou e não é fácil se situar. As redes sociais e as redes de amigos, serão cada dia mais restritas, o que espelha a conjuntura política, social e econômica, não apenas no Brasil, o mundo anda sombrio demais, uma outra sociedade está emergindo, no começo, bem pior. Depois, vamos ver como mudar.

A luz interna não se apagará, mas brilha com pouca intensidade. Por enquanto é isso.

 

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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