“A vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que seduzem a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e no compreender desta práxis”. (Teses sobre Feuerbach – Marx)
Por mais chato que seja, vou continuar a repetir, como mantra: Sem Teoria, sem conhecimento e sem ação, nada, ou quase nada se muda. Parece coisa século XIX e, é. Contudo, é uma questão inescapável, por mais forte e próximo (será mesmo) o “contato” via rede, sem saber o que queremos, ou por que nos contrapomos ao que nos cerca, é tudo em vão.
A minha geração se conformou, se acoplou ao sistema, mas de certa forma lutou, deu o combate, mas foi incapaz de superar a queda do Muro de Berlim e do leste europeu. Pensei que tivéssemos uma segunda chance com a queda do Muro de Wall Street, abriríamos um novo momento, por enquanto, nada. Ou talvez, enxergue muito pouco.
A ausência de ideologia e a dispersão partidária encontraram no ativismo via internet um novo servilismo político, ainda que aparentemente hostil, é o que há de mais sofisticado e devidamente permitido pelo sistema, a internet virou o campo mais fértil para esta onda, de aparente questionamento ao sistema, aliás, até incentivado por ele, já que de alguma forma a causa, a revolta, alivias as tensões
É uma falsidade dizer que existe convivência e pluralidade de ideias nas redes sociais, a tolerância, mesmo dentro de grupos de interesses comuns, é muito pequena. A coisa é muito rápida, as relações se dissolvem num instante, num segundo. O autoritarismo e a falta de espírito coletivo, da troca paciente, da aproximação debatida, quase não existe, o que predomina é o: Ame-o ou Deixe-o.
Visto de um ângulo mais amplo, aquilo que prometia ser uma nova era de contatos e vivências (via redes sociais), se demonstra que o que prevaleceu foi o lado mais tirânico e individualista. Parece que, individualmente, temos todas as respostas para vida e daremos solução para tudo. Um terrível e trágico engano. Nada coletivo, tudo se resolve no personalismo, a “vitória” da lógica da meritocracia.
Noto, a olhos nus, como fomos empurrados para parede, sem qualquer possibilidade de recuo, o extremo é a saída, romper ficou tão simples, que repetimos, nas nossas relações, a lógica dos “15 minutos de fama”, ou melhor, de amizade, respeito e convivência. Nem tentamos aprofundar uma divergência, um olhar diferente sobre um fenômeno, um processo, menos ainda na análise da conjuntura, a leitura de um cenário. Tudo vira razão para mais rupturas.
A pressa de coincidir ou não com aquilo que pensamos é o sinal final de que devemos romper imediatamente com nosso interlocutor. Zero paciência.
Esta prática se espalhou de forma vertiginosa com o advento das redes sociais, aqui, a extrema urgência de tudo, parece que aceleramos demais, precisamos de respostas para ontem: Amor, Ódio, ideias, grupos, acordos e rupturas. Os embates duram alguns poucos segundos, uma palavra mal (ou bem) colocada pode levar ao afastamento, que em regra, significa que todos os mais “amigos” também rompem, uma sensação terrível de vazio, uma frustração de que algo não tenha se desenvolvido, um coito interrompido, uma ejaculação precoce.
Nada se fechou ou se abriu, foi apenas um espasmo, no fundo é este o sentimento, não de superioridade, ao contrário, é de frustração de não termos sido capazes de despertar mais debate, mais conhecimento, mais teoria, mais ação. O deserto ideológico, já dura uma geração inteira, sem que apareça novos atores, que olhem o passado como fonte de saber, não com desprezo.