“Criai coragem; não há noite fria, por mais longa que seja, sem seu dia” (Macbeth – Shakespeare)
A vida é feita de grandes lutas e vitórias, mas também de derrotas que ameaçam zerar o jogo, ou o placar ficar negativo. Nesses momentos ficamos sem rumo, sem direção, sem alento e nem sabemos para onde olhar e buscar uma saída. O remédio é o tempo, a espera será dolorosa, muitas vezes as feridas parecem não vão se curar e continuarão ardendo por anos a fio.
As derrotas políticas, para mim, são sempre as que mais machucam, superam inclusive as do futebol, pois têm repercussões mais fortes na vida e na sociedade. Derrota eleitoral é algo secundário, ela reflete apenas um instante que se pode remediar depois, pode doer, mas é bem certo que a recuperação virá logo em seguida.
Entretanto não é o caso dessas eleições como escrevi ontem, 2013, Morreu: A Queda do PT, os significados são mais fortes, não foi uma simples derrota, é uma espécie de 7 x 1 só que agora na política. São aqueles instantes em que sinto a necessidade voltar a estudar, ler, de me afastar desse quadro e repensar quase tudo.
As lições do que fiz entre 1990 e 1993 parece ser o melhor caminho a seguir.
Depois da queda do Leste e do Muro de Berlim, veio a derrota do Lula no segundo turno para Collor e se fechou, logo em seguida, com os Sandinistas perdendo na Nicarágua. Aquele 1990, não foi fácil, a seleção do Lazaroni com futebol horroroso caiu nas oitavas da copa. São Paulo vivia um desemprego infernal, tinha recém-chegado aqui, muitos amigos que tinha conquistado no trabalho estavam indo embora para o Japão e parecia que tudo ia acabar.
O ano era tão terrível que em São Paulo o segundo turno teve Fleury (Quércia) contra Maluf. Collor tinha rapado a poupança, mas as pessoas ainda não se davam conta da desgraça toda. Apenas no fim do ano tive uma alegria: O Corinthians, com um time ruim demais, se superou e venceu o Brasileiro, naquele 16 de dezembro, foi a única notícia boa, em quase dois anos.
Nessa época trabalhei no Guarujá por quatro meses, entre agosto e dezembro, ali serviu de refúgio, entre o trabalho e o apartamento, olhava para o mar, ficava ali refletindo, distante de familiares, dos sonhos de militância e sem perspectiva clara de futuro.
Um sábado, no início de setembro, fui até Santos e comprei meus primeiros livros de Shakespeare, obras de bolso das Edições de Ouro, ideal para quem viajava e não podia levar muitas coisas. Com certeza, aqueles primeiros livros salvaram minha vida. Abandonei os livros de Marx e Lênin, mergulhei de cabeça em Shakespeare, em poucos meses tinha lido toda a obra, parecia que tinha renascido, que havia vida fora daquela vida.
Os anos seguintes, 91 a 93, fui emendando um autor clássico em outro, mudando minhas perspectivas, fortalecendo a minha alma. Compreendi que a vida era mais ampla, que os livros, a literatura, transformam seu humor e ajuda a nos libertar de qualquer prisão ou pressão social, política e psicológica.
Voltei a pensar sobre esse mergulho anterior, talvez seja hora buscar um novo alento. Os meus 21 anos ficaram para trás, mas a mente ainda não envelheceu, quem sabe não vou descobrir um outro mundo agora?
Lutemos com todas as armas, a felicidade está em nós, ainda que em condições insuportáveis, mas é preciso se reinventar sempre, todos os dias.