“O deus soberano, cujo oráculo está em Delfos, nem revela, nem oculta coisa alguma, mas manifesta-se por sinais”. ( Heráclito)
Chegamos ao fim de um longo processo no Brasil, que foi aberto com as jornadas de junho de 2013, iniciado pela esquerda, mas, em seguida, completamente capturada pela Direita. A movimentação foi extremamente bem preparada, pois conseguiu colar definitivamente o rótulo de Corrupção ao PT e aos seus quadros, quase que exclusivamente como o único partido corrupto do Brasil.
A materialização desse voto Anti-Corrupção como sendo o voto anti-PT se consolidou ontem, nas eleições municipais. A chaga da corrupção foi sendo identificada como representada pelo PT, com a imensa contradição de se votar em tradicionais corruptos contra o PT seria estar votando conta a corrupção (ah, Freud…). O que podemos avaliar é que a mídia conseguiu convencer as pessoas de que o voto certo contra corrupção seria votar contra o PT.
Precisamos ampliar a reflexão dessa loucura, pois ela tem um método. A criminalização da política virou a ideologia dominante da mídia, dos indignados seletivos, dos políticos que se dizem “não-políticos”. O Novo Estado, o Estado Gotham City, que surge, emerge dos escombros da Crise 2.0, será de mais controle e violência, dominado pelo medo. Nos países europeus e nos EUA foi pela imposição da doutrina da “Segurança”, pacientemente cultivada por décadas, essa tese assumiu o centro das preocupações da máquina burocrática.
Do nosso lado, a questão é reduzida à Corrupção, o medo é trabalhado em torno dela, assim como a exigência de força acima das leis, para combatê-la. Assim, a narrativa, se virou contra o PT, o destampar desse processo veio com as tais jornadas de junho de 2013. Uma engenhosa máquina de destruição montada na época, só agora venceu de ponta a ponta.
Claro que não destruiu o PT, nem a esquerda, mas vai voltar aos anos de 1980, o retrocesso será amplo nas lutas e nas conquistas sociais.
O PT reduziu sua representação a terça parte do que elegeu em 2012. A votação nacional diminuiu assustadoramente, é preciso uma reflexão e uma autocrítica de todos esses anos, ou vai definhar ainda mais, em breve. O pior, as alternativas à esquerda ainda são incipientes, a onda reacionária se consolidou.
Parte da esquerda majoritária (PT e PC do B) entrou na máquina do velho estado e assumiu o ônus, pesado, de dirigi-lo, tendo que fazer os acordos mais esdrúxulos para levar adiante esse objetivo. Inclusive, hoje, sabemos da fragilidade dessa governabilidade conseguida a fórceps, com práticas pouco “republicanas”. Além de desgastar e desacreditar boa parte de suas lideranças se tornou alvo preferencial da sanha persecutória desse processo de judicialização da política.
Também cumpre lembrar que parte da esquerda, que rompeu com o PT, enveredou pelo mesmo caminho do ultraliberalismo. E pelo moralismo típico das classes médias, reforçando o repúdio, junto aos trabalhadores, da Política e da Democracia, fazendo-os esquecer que, sem elas, não chegaremos a lugar algum, pois as condições de luta e resistência são sempre piores sob Ditaduras abertas ou disfarçadas.
A marcha do Estado de Exceção, do Ultraliberalismo, contou com a assimilação da sua ideologia, de forma sutil, pelos movimentos de “Indignados” “Occupies”, no Brasil pelo tal “Gigante”. A maior expressão dessa ideologia é a luta pela diluição dos partidos, sindicatos e organizações civis, como se estes fossem o empecilho ao “novo”, mas de que novo estamos a assistir? Um Estado ultraliberal, sem “políticos” sem ordem e sem freios sociais? Claro que não se enxerga, ainda, completamente.
Nesse tempo estranho, o Kapital, controlado pela fração do Kapital financeiro, com a orgia praticada pela nuvem de trilhões se move pelo mundo destruindo economias, povos, nações e histórias, não nos surpreende que abertamente pregue, para seus acólitos, que a democracia e a política já não são importantes, que no fundo atrapalha o “crescimento econômico” e sua capacidade individual de ser rico, é por seu mérito. A meritocracia como ideologia sequestrou corações e mentes, em especial, das classes médias urbanas.
É fato que finalmente 2013 acabou, hoje, o ano que começou em junho de 2013. O outono da esquerda, do PT em especial, está acabando hoje.
As marcas durarão décadas.
O PMDB e o PP que foram os partidos que mais roubaram a Petrobras, cresceram. Triste.