“puluis et umbra sumus” (somos pó e sombra – Horácio)
Esses últimos seis meses, aqui, só respiramos Política, não era para menos, mas também não deixa de ser uma fuga para meus íntimos tormentos, aquilo que a pouco tempo denominei de “pequenas tragédias” de cada um ser vivente, em oposição, ou articulação, com a vida geral, dessa grande dor/prazer que é viver, de ir em frente, nesse mundo que, em alguns momentos (este, por exemplo), tudo não faz o menor sentido.
A reflexão começa com uma indagação: “Como se articulam as pequenas tragédias, os incidentes pessoais com as do mundo todo, que é feito de grandes acontecimentos, trágicos ou não? Afinal, o que nós somos? Um mundo inteiro cabe em nós, mas nosso mundo é minúsculo diante da imensidão do “mundo”. Aqui, lembremos, a relação do “nosso” tempo, com o “tempo”, o hiato de nossa existência, em proporção ao amplo tempo. O que vivemos? Quanto vivemos?”
Depois continuei a devagar sobre “este intricado mistério de o quanto somos ou de quanto vivemos, diante de um todo que nos oprime, ou que nos empurra para nossa real existência, nossa temporalidade. A vida (tempo e lugar que ocupamos) é breve demais, nem temos consciência de elaborar, dimensionar o que cada um de nós é, ela acaba, um sopro, um tolo equilíbrio. Esta coisa nos assusta e nos impulsionar a fazer algo mais, ou nos paralisa para sempre”.
O cartesiano, que me habita, começa a gritar de que a vida é uma coisa mágica, pois ela te traz todas as potencialidades que dela se consegue ter: Dos prazeres imensos, ao conhecimento amplo; do amor às coisas do mundo; das criações humanas/divinas, aos encantos da natureza e da tecnologia.
Mas, ao mesmo tempo, a vida é um permanente dolor, os medos, as doenças, a fome e a miséria a luta pela sobrevivência, a extrema fragilidade do nosso corpo. Ou seja, o ser humano é dual em tudo e, mais ainda, em si mesmo. Carregamos problemas e soluções, dos mais simples aos mais complexos, esta é a lógica mais dura que tentamos compreender no viver.
Alinhavar os fios da existência, compreender as dores, sorrir nos breves e prazerosos momentos, buscar alguma retidão de pensamentos, posicionamentos e de sentimentos, são os maiores mistérios daqueles que querem “viver bem”, como conseguinte, “fazer o bem”, nas premissas da ética aristotélica, de milênios atrás, mas tão cara a humanidade.
O que cada um quer de si? O que podemos fazer pelo outro? Nesses momentos extremos, ou brota a solidariedade ou a barbárie, pois somos dual, até nisso.
Ainda quero o primeiro sentimento como ordem de vida.