Arnobio Rocha Política É Preciso Romper com o Marasmo.

1320: É Preciso Romper com o Marasmo.


Uma nova vanguarda: jovens, mulheres e excluídos.

Uma nova vanguarda: jovens, mulheres e excluídos.

“Como estes crendeirões esperam sempre!

Fossam na terra, à cata de um tesoiro,

dão co’uma vil minhoca, e ficam pagos!”

(Fausto – Goethe)

A ruptura da conjuntura mundial não pode e nem deve ser atribuída como obra do acaso, ou apenas fruto do avanço da maciça propaganda ideológica do Kapital. Temos a obrigação de investigar com mais profundidade e buscar nas Relações de Produção,  de valor, o objeto real dessa mudança extrema de humor, no mundo inteiro.

O ponto de partida é a questão da Crise de Superprodução de Kapital, que se deu em 2005, conforme demonstramos nos nossos estudos sobre a Crise 2.0, sistematizado no livro, Crise Dois Ponto Zero – A Taxa de Lucro Reloaded  (São Paulo, Maio de 2013). Ali apontamos que o Kapital sofreu seu maior abalo, desde 1929, no seu coração, EUA, UE e Japão, com estrago jamais visto, no período de “paz”, sem ter havido uma guerra total.

Houve um empobrecimento geral, a queima de Forças Produtivas, vital para um novo ciclo de produção de Kapital, com a recomposição das Taxas de Lucro, penalizou enormemente as classes trabalhadoras e as classes médias urbanas, com efeito deletério na sociedade. Provoca a maior crise de representação do Estado, aquele que estava no meio do caminho entre Estado de Bem-estar Social e o Neoliberal.

Os políticos e as instituições foram abaladas pela Crise, nada sobrou de prestígio, como sempre o questionamento se dá na superestrutura, nas formas de representação, na Democracia e na Política. Tudo facilita as ações destruidoras da nova política de dominação do Kapital, o Estado Gotham City, a consolidação do Estado de Exceção, como solução e reaglutinação do Poder do Kapital.

O mundo vem sendo abalado por revoltas, rebeliões, em especial nos países periféricos, fenômeno iniciado nos regimes fechados do Egito, Tunísia, Turquia, quase como tubo de ensaio da “nova política” de intervenção indireta, feita por inteligência e controle de massas por redes sociais, que aproveita do descontentamento geral, justo, transformando em plataforma para futuros governos autoritários.

Essa onda passeia pela Europa e causou estragos na Espanha, Portugal, Itália, Grã-Bretanha, dissolução da Ucrânia, conflitos na França, com as reformas trabalhistas. Guerras de destruição na Síria e Líbia.

Aportou na América Latina, com golpes no Paraguai, Honduras, embates violentos na Venezuela, Argentina e Equador, até chegar ao Brasil, nas jornadas de Junho de 2013. O método aqui foi uma combinação das várias táticas usadas em todos esses países, fechando o cerco com um Golpe de Estado, em andamento.

Três anos depois, o processo ainda não se fechou completamente, mas é evidente que vivemos num país bem pior, a  Democracia sendo inviabilizada, um golpe aplicado no parlamento concluiu a “tarefa” de derrubar o vacilante governo Dilma.

Fechando o circuito macabro, a Política, foi devidamente criminalizada, o lugar-comum de que nenhum político presta, se impôs. A “casta de puros” avança de forma inexorável sobre a nação.

A rapidez com que o golpe de estado avançou pode impressionar a maioria, entretanto, os mais atentos devem ter percebido que a mudança de humor, desde junho 2013, representava uma virada histórica que se avizinhava. Aqueles velhos quadros não souberam lidar com o fenômeno insurgente, esquecendo que de igual proporção já havia varrido o Egito, Tunísia, Espanha, Ucrânia, além dos golpes no Paraguai e Honduras, como também a situação de extremo impasse na Venezuela e Argentina.

O esgotamento político era evidente, que nem mesmo a última lufada de ar, a vitória de 2014, pode esconder o quadro de desagregação e falta de perspectiva de enfrentamento ao golpe que avançava a olhos nus. Os golpistas tramavam e destruíam a imagem das principais lideranças, em processos eivados de ilegalidades, com um tribunal de exceção comandado por juiz de primeiro grau, sem que houvesse nenhuma reação.

Nada veio do Nada, tudo tem uma razão, uma lógica, não somos hegelianos, entender o processo, deve ajudar a combater o porvir. As rupturas das direções e dos vários agrupamentos de esquerda, apenas evidenciam a confusão causada pela ausência de análises coerentes e visão estratégica para onde ir. Pululam, hoje, coletivos, iniciativas de vanguarda para resistir ao golpe, mas não tocam nem de leve na estrutura de Poder Real.

Depois de muita vacilação e distanciamento da arena política eleitoral, os indignados espanhóis fundaram o Podemos, uma organização típica desses novos tempos, exemplar, nesse sentido, de que mesmo com o avanço do Estado de Exceção, é possível lutar de forma ampla e causar impasse ao Kapital.

O tempo que nos resta é muito curto, não é permitido ficar na contemplação, lamúrias, lamentos, muito menos alimentar ilusões de que aqueles velhos quadros venham nos salvar. Também não se deve esperar autocríticas das direções e, menos ainda, alguma força dos grupos autoproclamatórios revolucionários de guetos.

A hora é do novo, ainda que em pequenos grupos, plurais, de lutas segmentadas, de interesses difusos e libertários. A energia coletiva, solidária, pode apontar para uma nova síntese, mais igualitária, vertical e justa.

Este é o desafio, daremos conta?

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