“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa“ (MARX, Dezoito Brumário de Louis Bonaparte, 1852).
Em 2013, um movimento de milhares de pessoas ocupou por meses a Praça Maidan, em Kiev, dominado por neonazistas e nacionalistas que exigiam a renúncia de Víktor Yanukóvytch, presidente eleito da Ucrânia, sob o argumento de que ele estava negociando com a Rússia, não mais com a UE (essa lhe negara ajuda prometida de resgate financeiro).
Além da ocupação da Praça Maidan, houve uma combinação de forças paramilitares e alguns parlamentares com a mídia, controlada por Petro Poroshenko (depois “eleito” presidente) pela queda do governo. Depois se soube do amplo apoio subterrâneo do bilionário George Soros (Soros – O “Exportador” de “Revoluções”, digo, Golpes.)e da CIA, ajudando materialmente as forças golpistas. Yanukóvytch conseguiu resistir por três meses até a guerra civil se estabelecer no país e ele teve que fugir para não ser morto.
Os extremistas brasileiros estão transformando a Avenida Paulista, o coração de São Paulo, a principal cidade do Brasil, na sua Praça Maidan. Sim, há muita gente nas ruas protestando contra o governo Dilma, em particular em São Paulo, onde a população está aparentemente satisfeita com 20 anos de governo contínuo do PSDB, sem nenhum caso de corrupção investigado, muito menos CPIs espalhafatosas que pusesse em xeque os governos tucanos.
Esta tranquilidade de governar sem oposição no parlamento estadual e sem cobranças de mídia, criou a sensação de “mundo perfeito”, mesmo faltando água, metrô superfaturado e superlotado, pedágios caríssimos, impostos estaduais altíssimos e governo sem nenhum projeto significativo ou digno de nota. Mesmos os escândalos que conseguem chegar na mídia, como o dos trens superfaturados, não duram mais que uma semana, rapidamente abafados, nenhuma punição ou investigação séria.
O foco é o PT e Dilma, como dizia um simbólico cartaz: “Cunha é corrupto, mas está do nosso lado!”. A frouxidão ética e moral, pouco significa, até os atores estranhos, que vão desde classe média alta revoltada pelo dólar caro, até extremistas do PSTU.
Entretanto, nos parece, que no último dia 16 de agosto avançamos “duas casas” rumo ao golpe a lá Ucrânia, pois, pela primeira vez, essa massa disforme, convocado via redes sociais extremamente bem controladas por boots e robots, a exemplo das outras revoltas no mundo (As Revoltas Capturadas pela Direita), começa a ser dominada pelos velhos políticos que foram apeados do poder em 2002. Os líderes do PSDB e DEM deram a tônica aos atos, não mais apoio discreto, numa ação muito similar ao que se fez em Kiev, com os parlamentares indo à Maidan.
O PSDB com FHC (O esforço épico de FHC para destruir a estabilidade política (via Paulo Nogueira), Serra e Aécio em ação coordenada com a mídia (Folha de SP, Estadão em seus editoriais de ontem) levantam a mesma bandeira: Renúncia. A história se repete como farsa, essa foi a mesma tática usada pelos golpistas na Ucrânia na Praça Maidan. Ocupam a Paulista, criam clima de ódio pra justificar a queda de um governo eleito, aí aparecem os verdadeiros interessados no caos, como fiadores da transição, pois, simplesmente, seus crimes serão mais uma vez jogados para debaixo do tapete, ou melhor, engavetados por procuradores amigos.
O grande problema do Brasil atual é que está faltando democratas e sobrando protofascistas. A cena está dominada por oportunistas e canalhas, aquelas grandes figuras que mesmo sendo de centro ou de direita, respeitavam a democracia e se preocupavam com o país, sem sentimentos mesquinhos, praticamente sumiram, sobram figuras menores, com suas vilanias e seus sacos de maldades.
Parece que vamos assistir passivamente a vitória de tal tática, não nos sobrará nenhuma Crimeia, só nos restará a clandestinidade de poder usar vermelho sem sermos atacados? Incrível, mas parece que 2015 vai se tornando o ano em que fomos tomados pelo ódio e pelo medo, um torpor que nos cegou e nos fez perder qualquer racionalidade.
Nossa consciência foi sequestrada pelo efeito emocional da crise e das manipulações, até mesmo as mais grosseiras.
Em tempo, um governo neonazista assumiu o poder na Ucrânia, após a queda e o país continua dividido e mergulhado numa crise infindável e em guerra civil.
Será nosso destino?