O Kapital nos torna pasta comum, nos diluiu ao máximo, nos despersonalizando para que ninguém se identifique, uns com os outros, com as ideologias ou com grupos políticos que possa questionar o seu Poder Real, não aquele aparente, do congresso, dos governos, mas aquele que nos domina pela força econômica e que nos impõe uma coesão social, política, cultural e de vida. A dramática queda do Muro de Berlim nos liberou do stalinismo, mas também nos jogou diretamente no labirinto de Creta do Kapital.
A Política e a Democracia passam a ter um papel secundário, em alguns lugares da terra, de tão desimportante, não existirão. Toda sorte de desvalor das duas atividades (Política e Democracia) foram exploradas e quase criminalizadas pela mídia e ideologia do Kapital. Aqui cumpre lembrar que parte da esquerda enveredou pelo mesmo caminho reforçando o repúdio, junto aos trabalhadores, da Política e da Democracia, esquecendo-se que sem elas, não chegaremos a lugar algum, pois as condições de luta e resistência são sempre piores sob Ditadura abertas ou disfarçadas.
Mas a outra parte líquida e certa do Kapital é a Crise, que não deixou de existir, como tentaram nos vender os ideólogos burgueses, pós-muro. Sob a minha ótica, somente na Crise se amplia o espaço amplo para o debate sobre o Kapital e de seu Poder Real, além de que permite o surgimento de novas formas de lutas contra o sistema, num questionamento global, mas que não significa que o modo de produção capitalista esteja superado ou em crise permanente, nem crise terminal, mais ainda que a “velha” luta de classes também tenha sido superada.
As formas de organização dos explorados são dinâmicas, respondem ao nível de consciência e de elaboração que a classe trabalhadora acumula, mas não nega a existência da luta de classes. Tentar substituir as experiências históricas dos trabalhadores por uma “geleia geral” não nos parece uma coisa “Nova”. Há uma tentativa de diluição das organizações, dos partidos, sindicatos em nome de que a “história acabou” com o fim da Ex-URSS, pior, de que a sociedade industrial ruiu dando lugar a sociedade “Informacional”, o que nos parece de uma vulgaridade teórica das mais absurdas, sem nenhum pé na realidade da economia e da luta de classes.
Aliás, é no seio da classe trabalhadora que há uma renhida luta de velhas práticas políticas, pois se muda o meio (impresso para digital), mas a ideologia e concepção política continuam as mesmas. Mesmo que reaparecem com roupagem “nova” permanece a antiga prática stalinista de ignorar, de tornar “militantes anônimos”, abafar com o silêncio, sem dar espaço, todos aqueles que discordam de certa hegemonia política. O velho método de tornar “invisível” ou ridicularizar todos os que criticam estes grupos, patotas, panelas, virou moda nas redes sociais, quem discorda é desqualificado, as críticas são vistas como mimimi, ressentimentos, o que no fundo é para fugir ao debate.
Ainda sob a direção e influência de nossa geração, de formação variada, mas predominantemente stalinista, pode e deve surgir outro conceito de militância, que englobe esta experiência, mas que filtre nossos erros e deformações. Que consiga efetivamente ser alternativa política e democrática e que enfrente o Kapital em todas as suas formas, inclusive a mais cruel de todas: a ideológica. Mais ainda, que, a exemplo de Teseu (ler aqui Teseu – Pai mítico da Democracia), siga o fio de Ariadne, descubra a saída do labirinto, não sem antes matar o Minotauro.
Parece uma prece, um desejo, mas é um sentimento sincero, a vontade de ser superado, de abrir espaço para o Novo, sem nenhuma reserva, nem adoração à palavra.