1141: A "Democracia" do "Não Vai Ter Eleições".

Democracia, para que e para quem?
Democracia, para que e para quem?

 

Estas últimas semanas houve um bombardeio midiático sobre a prisão de ativistas, principalmente os oriundos da jornada de junho (2013). Entrou em evidência um discurso comum, em parte da Esquerda, de que vivemos sob um “Estado de Exceção”, que estamos sob um simulacro de Democracia, mas no fundo, para eles, o Brasil é vive uma “quase Ditadura”, os mais afoitos pregam, inclusive, o boicote às eleições, como uma continuação da “Não vai ter Copa”, agora um “Não vai ter eleições”, o que muito coincide com os delírios da Direita de que as eleições são viciadas, inclusive as urnas eletrônicas.

Alguns militantes inexperientes, de boa-fé, acreditam que o jogo eleitoral é uma farsa, que não representa mais ninguém, é o mesmo raciocínio que levou os “Indignados”, da Espanha, ao boicote das eleições em 2011, que redundou na maior vitória da Direita espanhola, Rajoy, da ala mais radical e religiosa do PP, venceu com ampla vantagem, agora aplica o mais duro ajuste econômico da história da Espanha, ou seja, piorou em muito a situação dos trabalhadores e do povo. O simples boicote ou desacreditar a Democracia em nenhum lugar levou a avanço, ao contrário, a descrença, leva ao retrocesso.

Venho insistindo, nestes últimos meses em particular, para que façamos um debate sobre o tal “Novo”, dado como o “sujeito” da “Revolução”.  Os eventos das jornadas de Junho de 2013, no Brasil, não ficam longe de outras lutas, como Espanha, Itália e EUA, tendo como atores fundamentais, os tais “Indignados” e Occupies, que em síntese questionam a democracia, mas especificamente, a representativa. Em alguma medida diferem de Turquia e Egito, que a luta era por democracia em regimes autocráticos. É preciso voltar ao debate ideológico, em particular de Marx, para evitar um desastre ainda maior.

A maior crise que o Kapital sofreu em todos os tempos, iniciada em 2005, trouxe de volta os estudos e a imensa contribuição de Marx para a humanidade. O pensador que dissecou o Kapital, ainda que estejamos prestes a comemorar 150 do lançamento do “Das Kapital”, parece um visionário, de tão atual e vigorosa a sua análise e compreensão da Crise, ou das Crises. Os ciclos de acumulação, a produção de riqueza e de Valor, observados e descritos com enorme precisão, assim como as consequências de sua circulação, distribuição, que levam à crise tornam Marx único e nos ajuda a compreender o nosso papel na sociedade do Kapital.

Minha contribuição ao resgate de Marx, o pensador do Kapital, está expressa no meu livro  Crise Dois Ponto Zero – A Taxa de Lucro Reloaded, um grande esforço de analisar a atual crise, que denominamos de  Crise 2.0, sob esta categoria, o blog, tem um grande número de artigos, que levaram ao livro e continuaram o debate sobre os rumos do Kapital. Ultimamente tenho me dedicado a estudar a questão do Estado e da Democracia e, subjacente, a ideologia dominante, que prepara as bases fundantes, não apenas de um novo ciclo do Kapital, que se abriu com a Crise, mas também sob qual Estado ele se edificará.

Aqui não se trata de um estudo isolado da realidade, ou para demarcar posições, ajustes de contas mesquinhos, mas como contribuição ao debate, mínimo que seja, sobre para onde vamos e que pode ser feito para se contrapor ao tsunami ideológico vigente. Mesmo na imensa Crise que mergulhou, em nenhum momento houve um questionamento cabal do sistema do Kapital, as críticas são periféricas e feitas pelos próprios ideólogos do Kapital. Outras são apenas moralistas, religiosas, mas as mais imprecisas acabam sendo as de esquerda, que interpretam a Crise como terminal ou permanente o que pode nos levar a um desarmamento ou a simplesmente esperar que o Kapital acabe por si, nada mais anti-Marx que isto.

O papel do Estado, o Novo Estado, que surge e emerge dos escombros da Crise 2.0, será de mais controle e violência, a doutrina da “Segurança”, pacientemente cultivada por décadas, assumiu o centro das preocupações da máquina burocrática. A Política e a Democracia passam a ter um papel secundário, em alguns lugares da terra, de tão desimportante, não existirão. Toda sorte de desvalor das duas atividades (Política e Democracia) foram exploradas e quase criminalizadas pela mídia e ideologia do Kapital. Aqui cumpre lembrar que parte da esquerda enveredou pelo mesmo caminho reforçando o repúdio, junto aos trabalhadores, da Política e da Democracia, esquecendo-se que sem elas, não chegaremos a lugar algum, pois as condições de luta e resistência são sempre piores sob Ditadura, abertas ou disfarçadas.

Contraditoriamente, na Esquerda, estes valores forma assimilados de forma sutil, pelos movimentos de “Indignados” “Occupies”, agora, aqui no Brasil pelo tal “Gigante”. A maior expressão deles é a luta pela diluição dos partidos, sindicatos e organizações civis, como se estes fossem empecilho ao “novo”, mas de que novo estamos a assistir? Um Estado ultraliberal, sem “políticos” sem ordem e sem freios sociais, como defini, antes: “A democracia passa a ser um “estorvo”, os velhos políticos ou as velhas formas de representação são tragados pelo Caos, esta aparente desordem esconde o “Novo”, um estado controlador, espião, policial que consegue galvanizar as revoltas não contra si, mas contra a própria democracia, vide Egito, Turquia, Ucrânia e agora no Brasil. As massas perdidas gritando contra as instituições, contra os políticos, mas não contra o Estado. Aliás, este ganha força com as propostas de intervenções das “forças da Ordem” ou o surgimento de um Batman, de um herói que ajude a criar mais uma “máscara” e proteja o Estado Gotham City”. 

A tentativa de substituir o mundo Real pela abstração Ideal já tinha ido mal com gente mais qualificada como Hegel, Kant ou Feuerbach imagine agora com este neoidealismo (filosófico) canhestro? Dá nos nervos esta estupidez do tal “Capitalismo Cognitivo”. Este é um momento crucial de reafirmar que a luta de classes, nunca foi tão dura e desfavorável, não dá para uma parte do movimento de esquerda embarcar numa viagem lisérgica.  A confusão conceitual pode nos custar caro. Pelo que vejo nada se cria, apenas usam nomenclaturas diferentes para expressar a mesma embromação, viva o Kapital: Burro ou Cognitivo, pois a exploração não é acidental, ao contrário, é a parte essencial do modo de produção.

A Democracia (Política) é um Fardo pesado demais para o Novo Estado, seu fim é exigido por uma aliança inusitada: Tea Party e Indignados. Sob o olha feliz da Kapital. O grande Kapital está exultante, pois uniu os extremos (Direita e Esquerda) contra o Velho Estado. O traço de Frank Miller (Tea Party) ou as palavras de Negri (Indignados) se unem contra a Democracia Representativa. O Que propõe: NADA. Ambos deixarão, o Kapital, com as mãos livre para a implantação do Novo Estado.

O liberalismo à la Tea Party contaminou o mundo, os cyberativistas vestidos de idiotas mascarados pregam a mesma liberdade egoísta da Direita. Conceitos como Cidadania, Urbanidade, Compromisso Social e Humano foram jogados na lata do lixo. O que tem valor, hoje, é a individualidade mesquinha, reflexo da sociedade ultraliberal do cada um por si e “deus contra todos”, assim vamos muito mal. A barbárie é um caminho, uma possibilidade cada vez mais visível no horizonte, quem a combaterá?

O fetiche é livre, se ilude quem quer.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

3 thoughts on “1141: A "Democracia" do "Não Vai Ter Eleições".

  1. Não consigo ver tudo tão claro assim… considero justa essa luta contra a brutalidade policial. Eu até achava que a Dilma não tem nada com isso, que o alvo da Carta à Dilma era equivocado, mas a própria Dilma na entrevista à CNN — muuuuuito mal divulgada, por sinal — diz que é preciso sim revisitar a Constituição e fazer algo a respeito dessa polícia. Então, essa barafunda tem um lado antidemocrático e um lado democrático… Felizmente ainda não vi nada sobre “não vai ter eleição”, ufa.

    1. Mari,

      Em qual local do texto não considero justa a luta contra a brutalidade policial? Mais ainda, digo bem claro que “O papel do Estado, o Novo Estado, que surge e emerge dos escombros da Crise 2.0, será de mais controle e violência, a doutrina da “Segurança”, pacientemente cultivada por décadas, assumiu o centro das preocupações da máquina burocrática. A Política e a Democracia passam a ter um papel secundário, em alguns lugares da terra, de tão desimportante, não existirão. Toda sorte de desvalor das duas atividades (Política e Democracia) foram exploradas e quase criminalizadas pela mídia e ideologia do Kapital”.

      Os mesmos caras que estão dizendo que há “Estado de Exceção”, estão por aqui questionando se vale a pena votar. Vinculam à repressão ao “ativismo” às eleições, mais ainda, com Dilma. Ok, cada um ver como quer.

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