Arnobio Rocha Esportes #VaiBrasil – Todas as Copas – 1990 – A Era Collor no Futebol

#VaiBrasil – Todas as Copas – 1990 – A Era Collor no Futebol


Seleção Brasileira de 1990, bons jogadores, num time caótico.

Seleção Brasileira de 1990, bons jogadores, num time caótico.

O ano de 1989 será conhecido como aquele que jamais acabou, foram tantos acontecimentos históricos que não cabe apenas em um ano. Do massacra da Praça da Paz Celestial, em 04 de Junho, até a queda do Muro de Berlim, em 03 de Novembro, o que se conheceu como “leste europeu”, “mundo socialista”, “Cortina de Ferro” e tantos outros epítetos, “sumiu ao vento como nossos desejos” (WS). Foi uma preparação para a última década de um milênio, mas que 25 anos depois, ainda sentimos seu peso.

Naquele ano, no Brasil, também foi de extrema ebulição que culminou com uma campanha eleitoral presidencial, depois de 29 anos, das mais intensas e simbólicas, com as principais figuras, que lutaram contra a ditadura, como candidatos: Lula, Brizola, Covas, Ulisses Guimarães, Roberto Freire. Num desfecho tenso, Lula foi ao segundo turno, apoiado por todos eles, contra um desconhecido filho da ditadura, amplamente turbinado pela Rede Globo, Fernando Collor de Mello, de origem nos velhos coronéis do nordeste. A vitória de Collor trouxe ao Brasil o neoliberalismo ao centro da Economia, mesmo que este só se efetive com Itamar/FHC, anos depois, aquela aventura e o baixo astral contaminou o Brasil por dois anos e meio, parcialmente aliviado com seu afastamento.

No futebol, o Brasil, vivia uma mudança radical, o fim da geração de Ouro, sem Ouro, de Zico, Falcão, Sócrates, deu lugar a um novo grupo de grandes jogadores, mas comandado por um “Collor”, digo, Lazaroni, com um linguajar rebuscado, uma espécie de Rolando Lero da época, assumiu a Seleção em 1989, venceu a Copa América e classificou o Brasil para copa da Itália no polêmico jogo contra o Chile. A nova geração tinha em Romário e Bebeto a esperança de continuação de grande futebol, mas as invencionices de Lazaroni, combinada com a guerra pela premiação, não demonstrava grande expectativa na seleção.

Em 1989, tinha me mudado para São Paulo, trabalhava numa empresa japonesa, viajando pelo Brasil implantando Centrais Telefônica, mas naquele primeiro semestre de 1990 tudo estava paralisado, o sequestro da poupança e as restrições do ajuste do Plano Collor, tocado pela Zélia Lazaroni Cardoso, levou rapidamente o país a uma brutal recessão. Entre abril e junho, na empresa, mais de 60 técnicos e engenheiros, descendentes de japoneses, do meu departamento, pediram demissão para ir para o Japão trabalhar como Dekassegui. Dos 90 funcionários da minha área, sobramos menos de 30, parecia terra arrasada, sem novas obras e com perda de mão de obra qualificada.

A Copa começou em junho, para minha sorte, conseguir entrar num grupo de trabalho que foi enviado para Governador Valadares, em Minas Gerais, ali o emprego estava garantido por mais tempo, além de sair do ambiente pesado do escritório em São Paulo. Assisti aquela copa sem o menor entusiasmo, refletindo o clima de desemprego, de caos econômico e de futebol ruim apresentado pelo time, dirigindo por um sujeito enrolado, com palavreado esquisito, um horror. Para complicar, Romário que estava arrebentando no PSV da Holanda, tinha quebrado a perna e chegou a recuperação na Itália, quase sem condições de jogar.

Lazaroni resolveu “jogar como os europeus”, num 3 – 5 – 2, sem que antes tivesse preparado este sistema de jogo, o que tornou o futebol da seleção ainda mais confuso. A primeira fase, foram três vitórias em jogos ruins, 2 x 1 contra a Suécia, dois gols do Careca. O segundo jogo, 1 x 0, na “poderosa”  Costa Rica, gol de Müller, uma partida pavorosa. O último jogo da fase contra a Escócia, mais uma vez 1 x 0, mais um gol de Müller. Comandados pelo valente Dunga, que acabou símbolo de um futebol ruim, não deixava dúvidas de que não iríamos muito longe.

A próxima fase, um confronto direto com a Argentina, que era a atual Campeã do mundo, mas bastante modificada, mal das pernas e da cabeça, também vivia sua transição, mas pelo menos tinha Maradona, já em baixa, mas era ele. Na melhor partida do Brasil na Copa, o time perdeu um gol atrás do outro, bola na trave, belas jogas e chances incríveis desperdiçadas, quase um massacre. Aí, num lance isolado, Maradona arranca do meio, envolveu quatro jogadores do meio e defesa, até fazer um passe perfeito, que Caniggia não desperdiça, faltava pouco mais de 10 minutos para o completo desespero, sem antes Müller perder nova chance.

O castigo veio à galope, aquele momento era o pior possível, nem assim deixei de torcer, mas aquela seleção era o reflexo do país, da arrogância do Collor e das elites alienadas. Lazaroni e Zélia, parece ter frequentado as mesmas aulas de embromação. Quem acabou levando nas costas do fracasso foi Dunga, com a pecha da seleção em seu nome “Era Dunga”,  para mim, deveria ser Seleção “Era Collor”.

Melhores momentos: Brasil 0 x 1 Argentina pela Copa do Mundo de 1990

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