Dois anos atrás a Marvel resolveu “repaginar” sua adaptação, para o cinema, de um dos seus melhores quadrinhos, o Homem-Aranha, com o título: O Espetacular Homem-Aranha, é uma reconstrução da história clássica, atualizando para os novos tempos, de alta tecnologia, trazendo uma interessante visão científica de manipulação genética e mutação de DNA com cruzamento de espécies. O Homem-Aranha proposto era ainda mais jovem, não mais que 18 anos de idade, estudante do ensino médio, uma Escola Técnica com iniciação científica.
A parte dois, recém-lançada, há um aprofundamento das origens do Homem-Aranha, que reconta a história trágica de seus pais, o cientista Richard Parker desenvolve pesquisas para a OSCORP, um conglomerado que une tecnologia de ponta em experimentos genéticos às questões militares. Vítima destas tramas, Richard Parker e Mary, sua esposa, acabam mortos, deixando o pequeno Peter Parker aos cuidados do casal simples, tia May e tio Ben.
Nesta versão, ao contrário da anterior, não há espaço para humor, aqui identificamos o rito de passagem, do jovem tímido e desengonçado, quase um Nerd, para as responsabilidades adultas, com necessidade de sobrevivência para pagar faculdades e ajudar tia May com as despesas de casa, principalmente depois da morte de tio Ben. A soma geral de tragédias vai moldando o jovem Peter. A máscara, a nova identidade, que são símbolo dos heróis em qualquer cultura e tempo, parecem ser as únicas coisas que mantém Parker vivo.
Este novo filme é muito mais HQ, uma viagem por dentro das “páginas” das revistas em quadrinhos, a velocidade, a ação empreendida, as quedas no vazio, as mudanças de direções e os cenários, tudo muito bem realizado, mais uma vez por Marc Webb. Andrew Garfield, como Peter Parker, pegou o jeito, incorporou o personagem, já não nos deixa com saudades de Tobey Maguire, até porque as histórias e as propostas são bem diferentes. O anterior era aquele herói azarado, mas com doses de humor, este, o azar é o mesmo, mas a melancolia e sofrimento parece fazer mais sentido, com boa parte do que Stan Lee pensou, aliás, mais uma vez ele faz uma “ponta” no filme, uma justa homenagem ao genial criador.
Mas são estas características de dor, sofrimento, melancolia que fazem a enorme diferença, mais sentido real da vida, mas que será extravasada ao colocar a máscara, ir para a ação, há uma clara separação do duo, homem-herói, algo como uma janela, um escape que cada um de nós poderia ter e criar, quem sabe iluminará a vida, muitas vezes feita de apenas mesmices e frustrações? A saída de Peter Parker é o Homem-Aranha, qual é a nossa válvula de escape, para sentirmos pulso e vida?
As tragédias rondam a vida de Peter Parker, aliás, elas fazem parte do seu Rito Iniciático, os heróis são seres especiais, que povoam a memória coletiva da humanidade, não importando em qual quadrante do planeta, pois está no nosso DNA. Os heróis não são imunes aos males dos humanos, suas dores os fazem tão próximos de nós, que talvez seja ela, a dor, nosso maior elemento de ligação com eles.